19 de maio de 2013 | N°
17437
MARTHA MEDEIROS
Quando eu estiver
louco se afaste
Há que se respeitar quem sofre de
depressão, distimia, bipolaridade e demais transtornos psíquicos que afetam
parte da população. Muitos desses pacientes recorrem à ajuda terapêutica e se
medicam a fim de minimizar os efeitos desastrosos que respingam em suas relações profissionais
e pessoais.
Conseguem tornar, assim, mais
tranquila a convivência. Mas tem um grupo que está longe de ser doente: são os
que simplesmente se autointitulam
“difíceis” com o propósito de facilitar para o lado deles.
São os temperamentais que não
estão seriamente comprometidos por uma disfunção psíquica — ao menos, não que se saiba, já que não possuem
diagnóstico. São morrinhas,
apenas. Seja por alguma
insegurança trazida da infância, ou por narcisismo crônico, ou ainda por terem
herdado um gênio desgraçado, se decretam “difíceis” e quem estiver por perto
que se adapte. Que vida mole, não?
Tem uma música bonita do Skank
que começa dizendo: “Quando eu estiver triste,
simplesmente me abrace/Quando eu estiver louco, subitamente se
afaste/quando eu estiver fogo/suavemente se encaixe...”. A letra é poética, sem
dúvida, mas é o melô do folgado.
Você é obrigada a reagir conforme
o humor da criatura. Antigamente, quando uma amiga, um namorado ou um parente
declarava-se uma pessoa difícil, eu relevava. Ora, estava previamente explicada
a razão de o infeliz entornar o caldo, promover discussões, criar briga do
nada, encasquetar com besteira. Era alguém difícil, coitado. E teve a gentileza
de avisar antes. Como não perdoar?
Já fui muito boazinha, lembro
bem. Hoje em dia, se alguém chegar perto de mim avisando “sou uma pessoa
difícil”, desejo sorte e desapareço em três segundos.
Já gastei minha cota de
paciência com esses difíceis que
utilizam seu temperamento infantil e
autocentrado como álibi para passar por cima dos sentimentos dos outros feito um trator, sem ligar a mínima se
estão magoando — e claro que esses “outros” são seus afetos mais íntimos, pois com colegas e
conhecidos eles são uns doces, a tal “dificuldade” que lhes caracteriza some
como num passe de mágica. Onde foi parar o ogro que estava aqui?
Chega-se numa etapa da vida em
que ser misericordioso cansa. Se a pessoa é difícil, é porque está se levando a
sério demais. Será que já não tem idade para controlar seu egocentrismo?
Se não controla, é porque não
está muito interessada em investir em suas relações. Já que ficam loucos a
torto e direito, só nos resta se afastar, mesmo. E investir em pessoas alegres, educadas, divertidas e que não desperdiçam
nosso tempo com draminhas repetitivos,
dos quais já se conhece o final: sempre sobra pra nós os fáceis.
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