26
de maio de 2013 | N° 17444
PAULO
SANT’ANA
Lembranças da
juventude
Nunca
me esqueço de uma entrevista que a TV Globo fez com uma moradora da Favela da
Rocinha, no Rio de Janeiro.
A
repórter fez uma pergunta à senhora favelada: se eram frequentes os tiroteios
ali no morro. Ela respondeu: “Toda hora”.
Aí,
a repórter indagou sobre como ela se dava com aqueles tiroteios, os ruídos dos
estampidos, as balas cruzando de todos os lados.
E
ela respondeu: “Aqui a gente nem liga para os tiroteios, as balas entram por um
ouvido e saem pelo outro”.
A
cidade está mudada. Ali naquela esquina tradicional da Cidade Baixa, nos
reuníamos todas as quartas-feiras à noite para fazermos serenatas.
Foram
anos de enlevamento poético e musical.
Ao
passar hoje por aquela esquina, sinto uma profunda tristeza seguida de
resignação.
Tínhamos
saúde, éramos alegres, curtíamos intensamente o que restava da nossa juventude.
Hoje,
aquela esquina me parece mostrar apenas os escombros da nossa felicidade.
Alguns
anos antes, na nossa adolescência, varávamos a noite conversando à saída do
cinema na esquina da Bento Gonçalves com a Aparício Borges.
Éramos
eu, o Zé Bujão, o Nilo, o Cláudio Goandete, o Ivone Barbosa, o Waldir, a
maioria deles já falecida.
Ficávamos
fatigados de tanto conversar. Era a nossa iniciação na filosofia, ensaios da
ciência de viver.
Intercalávamos
nossas conversas com idas até o Bar Monte Pascoal, onde pela madrugada
retemperávamos nossas índoles com meia taça de café, pão e manteiga. Lembro-me
disso bem porque me faltava dinheiro e eles faziam uma vaquinha para custear
meu lanche.
Que
saudade daqueles tempos. A arte de conversar eu aperfeiçoei naqueles encontros
diários e intermináveis.
Até
que íamos dormir para reunir forças para o encontro da noite seguinte.
Eu
às vezes penso que o que me ergue são as recordações. O passado é muito mais
seguro do que o futuro, o passado não contém incertezas, enquanto uma nuvem
nebulosa cobre as perspectivas do nosso porvir.
Um
ouvinte mandou uma piada espetacular para o Sala de Redação.
Disse
que, após a desclassificação do Grêmio contra o Santa Fe, o Luxemburgo
reuniu-se com o diretor Rui Costa e decidiu, depois de muita parlamentação, que
o presidente Fábio Koff vai permanecer.
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