sábado, 25 de maio de 2013


26 de maio de 2013 | N° 17444
PAULO SANT’ANA

Lembranças da juventude

Nunca me esqueço de uma entrevista que a TV Globo fez com uma moradora da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.

A repórter fez uma pergunta à senhora favelada: se eram frequentes os tiroteios ali no morro. Ela respondeu: “Toda hora”.

Aí, a repórter indagou sobre como ela se dava com aqueles tiroteios, os ruídos dos estampidos, as balas cruzando de todos os lados.

E ela respondeu: “Aqui a gente nem liga para os tiroteios, as balas entram por um ouvido e saem pelo outro”.

A cidade está mudada. Ali naquela esquina tradicional da Cidade Baixa, nos reuníamos todas as quartas-feiras à noite para fazermos serenatas.

Foram anos de enlevamento poético e musical.

Ao passar hoje por aquela esquina, sinto uma profunda tristeza seguida de resignação.

Tínhamos saúde, éramos alegres, curtíamos intensamente o que restava da nossa juventude.

Hoje, aquela esquina me parece mostrar apenas os escombros da nossa felicidade.

Alguns anos antes, na nossa adolescência, varávamos a noite conversando à saída do cinema na esquina da Bento Gonçalves com a Aparício Borges.

Éramos eu, o Zé Bujão, o Nilo, o Cláudio Goandete, o Ivone Barbosa, o Waldir, a maioria deles já falecida.

Ficávamos fatigados de tanto conversar. Era a nossa iniciação na filosofia, ensaios da ciência de viver.

Intercalávamos nossas conversas com idas até o Bar Monte Pascoal, onde pela madrugada retemperávamos nossas índoles com meia taça de café, pão e manteiga. Lembro-me disso bem porque me faltava dinheiro e eles faziam uma vaquinha para custear meu lanche.

Que saudade daqueles tempos. A arte de conversar eu aperfeiçoei naqueles encontros diários e intermináveis.

Até que íamos dormir para reunir forças para o encontro da noite seguinte.

Eu às vezes penso que o que me ergue são as recordações. O passado é muito mais seguro do que o futuro, o passado não contém incertezas, enquanto uma nuvem nebulosa cobre as perspectivas do nosso porvir.

Um ouvinte mandou uma piada espetacular para o Sala de Redação.


Disse que, após a desclassificação do Grêmio contra o Santa Fe, o Luxemburgo reuniu-se com o diretor Rui Costa e decidiu, depois de muita parlamentação, que o presidente Fábio Koff vai permanecer.

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