13
de maio de 2013 | N° 17431
L. F. VERISSIMO | L.F. VERISSIMO
Centroavantes
Os
centroavantes são diferentes. Nenhuma outra posição num time de futebol se
presta tanto à controvérsia como a do centroavante. Sua função específica é fazer
gols. Ou seja, nenhum outro jogador vive tão perto do cerne, da razão depurada
e da glória final do futebol, que é a bola dentro do gol, como ele. É o
centroavante quem mais faz gols, e assim cumpre seu propósito sobre a Terra,
mas também é quem mais perde gols, e, assim, trai o seu destino.
Nenhum
outro jogador – bem, talvez o goleiro, que também vive ali onde o futebol se
define – transita como o centroavante entre a santificação e o abismo, às vezes
de um instante para o outro.
De
um goleiro não se discute onde deve ficar (é o único dos 11 que tem seu lugar
bem demarcado, com casinha e quintal), mas existe uma longa discussão sobre
onde e como um centroavante joga melhor.
Ele
deve ser uma “referência”, termo impreciso para quem fica lá na frente, de
costas para o gol, levando botinadas no calcanhar, servindo de pivô como no
basquete e garantindo uma certa simetria nos ataques, ou deve escapar da solidão
da grande área, buscar o jogo e vir de trás e de frente para o gol?
Estou
escrevendo tudo isto porque nesta semana vi jogar dois exemplos parecidos da
espécie, o togolês Emmanuel Adebayor, do Tottenham Hotspurs, de Londres, e o Jô,
do Atlético Mineiro. São dois negros altos com habilidade incomum para
jogadores com seus biótipos, e os dois são da estirpe dos que vêm de trás,
apesar da altura ideal para serem “referência”.
Adebayor
atuou no empate do Tottenham com o Chelsea, Jô no chocolate mineiro que o Atlético
deu no São Paulo, e foram os principais jogadores em campo. São dois que eu
gostaria de ter no meu time.
Aliás,
outra razão para estar escrevendo isto é que o Jô esteve no meu time, o Internacional.
Ficou na reserva, entrou umas três ou quatro vezes – e não fez muita coisa. Espera-se
tanto dos centroavantes que é difícil dizer quando eles simplesmente não estão
correspondendo à exigência imediata de fazer gols, numa fase ruim passageira,
ou não têm o futebol desejado e nunca terão.
Vendo
o Jô marcar seus gols contra o São Paulo, ficou a mágoa: ele precisava ter a
sua temporada no abismo logo no Internacional?
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