04
de maio de 2013 | N° 17422
NILSON
SOUZA
Perguntadores
Jovem
estudante de Jornalismo, com a tarefa de entrevistar um especialista em
Economia, me procura angustiada:
– O
que eu vou perguntar para ele? Antes de responder, volto no tempo.
Uma
das primeiras entrevistas que fiz, quando jornalista iniciante, foi com um
açougueiro. Não, não era aquele da Rua do Arvoredo. Antes fosse, pois
certamente teria histórias mais interessantes para me contar. Meu personagem
era metido com esportes e nem me lembro mais o que queria saber dele.
Só
lembro que fui para o embate verbal absolutamente despreparado. E o homem não
cooperou em nada, sequer saiu de trás do balcão para me receber. Continuou
cortando nacos de carne com uma faca ensanguentada enquanto respondia com
grunhidos inaudíveis às três ou quatro perguntas que consegui articular.
Voltei
para a Redação do jornal desiludido e transformei aquele indigente diálogo num
texto de meia dúzia de linhas, de pouco interesse para os leitores.
Culpa
minha, aprendi com o tempo.
A
entrevista é a essência do jornalismo. É desse contato entre o entrevistador e
sua fonte que saem as informações surpreendentes e inéditas, geradoras das
melhores notícias. Mas perguntar não é tão simples quanto parece. É um mito
aquela história de que perguntar não ofende. Pelo contrário, um perguntador
despreparado ou uma pergunta malfeita podem levar qualquer entrevista ao
fracasso.
Aprendi,
também, que para conquistar a confiança do entrevistado o repórter deve se
preparar adequadamente, munindo-se previamente do máximo de informações sobre
ele. Com as facilidades tecnológicas atuais e com os bancos de dados
disponíveis, o entrevistador não tem mais justificativa para chegar diante de
um entrevistado sem conhecê-lo. O ideal é saber tanto sobre ele, que a
entrevista quase se torne desnecessária.
Um
bom entrevistador não induz o entrevistado a responder o que quer ouvir, nem
aceita tudo o que ouve como verdade insofismável. Sua função é perguntar com
objetividade, observar com atenção, registrar com precisão e depurar o que
merece ser levado ao conhecimento do público.
A
entrevista é a modalidade de reportagem pela qual o profissional de comunicação
mais se expõe, pois possibilita ao público avaliar tanto quem pergunta quanto
quem responde. Independentemente do veículo utilizado, as pessoas percebem
quando um repórter age como cúmplice da fonte ou como seu oponente – posições
igualmente equivocadas, pois o mais honesto é perseguir a neutralidade.
O
assunto rende um tratado, mas, sem a pretensão de saber mais do que ninguém,
simplifico com a resposta que dei à jovem aspirante ao meu ofício: – Pergunte o
que o teu público gostaria de saber.
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