12
de maio de 2013 | N° 17430
VERISSIMO
- As aventuras da família Brasil
A extremófila
Há
organismos que nascem e crescem em lugares que até pouco tempo eram
considerados impossíveis para a vida, como em torno das ventas vulcânicas no
fundo do mar. Esses organismos têm um nome: extremófilos.
Eles
amam os extremos. Dependem dos extremos para viver. Ou o caso da Verinha só se
sentem realmente vivos perto dos extremos. Na turma havia até uma certa
desconfiança de que a Verinha nascera numa rachadura do fundo do mar. Só isso
explicaria sua atração pelos extremos.
Não
se tinha notícia de um namorado da Verinha que não tivesse no mínimo ou o dobro
ou a metade da sua idade. Uma vez namorara um homem tão mais velho do que ela
que o traíra com seu bisneto. Outra vez encontraram a Verinha com um novo
namorado num restaurante, comemorando com champanhe o nascimento do primeiro
pelo pubiano dele, o que significava que ele já podia tomar champanhe.
O
romance acabou logo em seguida quando a Verinha fugiu para Paris com a avó do
rapaz, que fizera análise e descobrira que era lésbica, e que também foi
abandonada quando Verinha conheceu um estudante basco que planejava se atirar
de paraquedas sobre a embaixada espanhola com dinamite amarrada no corpo e,
claro, não pode resisti-lo.
Por
tudo isso, todos estranharam quando a Verinha começou a sair com o Miro. O Miro
era mais ou menos da sua idade. Nem muito mais velho nem muito mais moço.
Funcionário público. Gostava de futebol mas não era fanático por nenhum clube.
Lia pouco. “Seleções”, alguns livros de autoajuda. Também não era muito de
cinema. Lamentava que não aparecessem mais filmes do Charles Bronson.
Bebia
com moderação, gostava de dormir cedo e, em matéria de política, não tinha
opinião formada. Votava em quem parecesse mais honesto. Sua filosofia era que,
se todos no Brasil apenas fizessem o seu trabalho corretamente, como ele na
repartição, este país tinha jeito sim.
Pediram
explicações à Verinha. – Por que o Miro? – Cansei – disse, simplesmente, a
Verinha.
Era
difícil de acreditar. Uma extremófila cansada dos extremos? A Verinha
acomodada? A Verinha dormindo cedo, depois de sexo protocolar? A Verinha
concordando que a sabedoria está sempre no meio-termo. como gostava de dizer o
Miro? A Verinha moderada?! Impossível. E começaram as especulações. O Miro
seria um extremista disfarçado. Seu exterior de pão de ló esconderia um coração
de Al Qaeda. Ou ele era alguma coisa extrema na cama, alguma coisa que a
Verinha não encontrara em moços, velhos, lésbicas ou acessórios.
Mas
não. Miro parecia ser exatamente o que parecia ser. Qual era a explicação? Não
havia explicação racional. Até que um dia alguém notou a expressão no rosto da
Verinha enquanto o Miro descrevia o novo método de arquivamento que inventara
para o escritório. A adoração, o quase êxtase, no rosto da Verinha. Era isso!
Era a explicação!
–
Vocês já notaram como o Miro é chato? – É, coitado. – Não, o Miro é muito
chato. O Miro é extremamente chato.
O
Miro é, provavelmente, o homem mais chato do mundo! Claro. Uma extremófila não
se contentaria com alguém apenas normal. Tinha que ser alguém radicalmente
normal. Um chato até as últimas consequências.
E
até hoje, quando o Miro diz coisas como “Eu, se não durmo minhas oito horas por
noite, fico imprestável” a Verinha olha em volta, radiante, desafiando alguém
da turma a produzir um chato mais chato do que o seu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário