RUTH
DE AQUINO
O que os homens esperam das
mulheres
"Talvez
os homens sejam realmente mais básicos ou tenham expectativas mais reais. De
minha parte, espero sobretudo que minha mulher me ame, seja companheira, leal,
que me motive a andar para a frente, e que sejamos felizes juntos.”
Reproduzo
acima o que ouvi de um amigo após a edição da revista ÉPOCA com um especial
dedicado a 50 anos de feminismo. O título era “O que as mulheres esperam dos
homens”. Em 1963, a mulher tentava escapar da armadilha de mãe doméstica,
submissa e dependente, sem direito a divórcio. Era a pré-história da pílula
anticoncepcional.
Hoje,
meio século depois, me incomoda a maneira como meninas e meninos são educados
pelas mães e pelos pais. A menina, desde que nasce, é “a princesinha”. Veste
rosa, pinta as unhas e faz festa de castelo encantado. De tanto ouvir que é princesa,
desejará um príncipe mais tarde. O menino é tratado como um super-herói, um durão.
Seu nome raramente é falado no diminutivo em casa. Mimamos a “Flavinha” e
estimulamos o “Paulão”. Por que a família e a escola perpetuam esses papéis e o
desencontro na vida adulta?
Como
o homem costuma falar menos e ocupa as posições de poder, a mídia relega os
machos a um segundo plano. Isso até os favorece, porque não são tratados como
um bloco homogêneo. Segundo estudos, a mulher fala 20 mil palavras por dia, e o
homem 7 mil. O triplo, será? Para alguns especialistas em linguagem, isso não
passa de mito. Se levarmos a generalização ao extremo, os assuntos favoritos
costumam ser diferentes.
“Homem
fala de futebol e mulher. Mulher fala, fala, fala...De empregada, filhos,
sapatos, bolsas, cabelos, homens.” Esse é o comentário de um amigo poeta e
provocador. Perguntei o que ele espera de uma mulher. “Que seja inteligente,
sedutora, não fale muito e seja boa de cama.” Machista ou básico?
Também
prefiro homens que não sejam tagarelas e apreciem a cama não só para dormir. Mulheres
que se queixam de falta de preliminares devem perguntar-se: eu me debruço sobre
o corpo de meu parceiro ou fico deitada aguardando carinhos? Mãos à obra, moças.
Tenho
a impressão de que eles gostariam apenas que elas parassem de reclamar
deles
Reportagens
sobre gêneros costumam concluir que “eles” estão confusos, perdidos e precisam
de uma revolução, já que “elas” fizeram a sua. Será que os homens concordam?
Duvido. Tenho a impressão, nada científica, de que os homens gostariam apenas
que as mulheres parassem de reclamar deles o tempo todo. Ou reclamam deles ou
da falta deles.
“As
mulheres nunca parecem satisfeitas com nada. Se eles fazem o lanchinho do bebê,
elas acham que não fazem direito. Se buscam o filho na escola, ah... por que não
corrigiram o dever de casa? Uma lamúria sem fim”, disse uma amiga minha, mãe e
profissional bem-sucedida, após ler ÉPOCA. “Acho as mulheres muito chatas. E os
homens, à medida que vão se parecendo mais com as mulheres, ficam também cada
vez mais chatos.”
Perguntei
a um amigo, separado, pai de adolescentes e recém-casado novamente, como ele se
sente. “De fato, é muito difícil ser esse macho ideal, que mata um leão por dia
no trabalho e ainda precisa levá-la para jantar, cortejá-la, diverti-la e comê-la
ardorosamente”.
O
que a mulher espera de um homem mudou pouco. Encontrei, num mercado do
Brooklyn, em Nova York, um cartão-postal de 1941 sobre “your ideal love mate” (seu
amor ideal). A imagem é de um homem de cabelos bem cortados e gravata – bem
parecido com o da capa de ÉPOCA. A descrição:
“O
companheiro ideal é um homem com coração grande, caloroso. Impulsivo, mas com
profundo senso de valores. Assume riscos, mas não riscos tolos. Encara suas
responsabilidades sem hesitar, é honesto e gentil. Tem um talento real para
aproveitar a vida e ajuda sua mulher a aproveitar a dela”. Esse perfil tem mais
de 70 anos. Semelhante ao de agora?
O
homem deseja o mesmo de sua mulher. Indagado sobre o segredo de 50 anos de
casamento com a mesma mulher, tema de um de seus livros, o escritor americano
Gay Talese respondeu: “Paciência e bom sexo”. Concordo. De ambos os lados. O
ponto alto do especial de ÉPOCA é a entrevista com a socióloga americana
Stephanie Coontz. O feminismo do século XXI é sobre defender pessoas e não gêneros.
Há quem acredite na besteira de que o mundo é diferente quando dirigido por
mulheres. Não sei onde.
A
melhor pergunta hoje – especialmente quando vemos o mala do pastor Feliciano
agarrado à função insustentável de defensor de direitos humanos – seria: “O que
as pessoas esperam das pessoas?”. Que não sejam hipócritas é um bom começo.
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