LIANE
CANTANHÊDE
Vão partir para a
ignorância?
BRASÍLIA
- O deputado e pastor Feliciano não é mole. Além da cara de pau de assumir a
presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ele resiste a
todas as pressões e ponderações para sair de onde nunca deveria ter entrado e,
agora, parte para o ataque.
Autor
de frases racistas e homofóbicas, alvo de processos no Supremo Tribunal Federal
(um deles por estelionato) e flagrado dando uma bronca numa ovelha do seu
rebanho que lhe passou o cartão de crédito, mas não a senha, Feliciano se
coloca como vítima e joga a polícia parlamentar em cima de manifestantes.
Um
foi detido por chamá-lo de "racista" e o outro (até devidamente, cá
entre nós), por tentar invadir o seu gabinete. Pior: enquanto chama a polícia,
Feliciano aciona os militantes do outro lado: os irmãos de fé.
Aliás,
a convocação é do seu partido, o PSC. Ao comunicar, desassombradamente, que o
pastor seria mantido na presidência da comissão, o vice-presidente nacional do
partido, o também pastor Everaldo Pereira, disse que o camarada é "ficha
limpa" e ameaçou: "Não fazemos ameaças, mas, se for preciso convocar
centenas de militantes que pensam como nós, também vamos convocar". Que
medo!
O
risco é o Congresso virar um palco de guerra entre manifestantes anti-Feliciano
e pró-Feliciano, com tudo o que isso significa em termos de direitos humanos,
de minorias, de avanços, de atraso. Se ficasse só nas ideias, ótimo.
Continuando no grito, já é preocupante. E se partirem para a ignorância, para
as vias de fato?
No
meio da desordem, pergunta-se: cadê o presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves, que é o parlamentar mais experiente e tem a política no sangue? Ele não
só disse que a situação era "insustentável" como se comprometeu a
resolvê-la rapidamente. Daí? Daí, nada.
Políticos
resolvem as coisas parlamentando, negociando, ajustando contrários. Mas é a
velha história: "Em casa de ferreiro, espeto de pau".
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