24
de março de 2013 | N° 17381
QUASE
PERFEITO | FABRÍCIO CARPINEJAR
Santuário brega
Nosso
amor tem direito a uma exceção cafona, a preservar um ídolo da infância acima
de crítica.
É como
um serviço de proteção do passado. Não deve debochar. Não deve rir. Não deve
expor no Facebook e cometer bullying familiar.
Toda
mulher elegante preserva um altar brega dentro do armário. Conserva uma gaveta
onde guarda recortes de jornais e revistas, cifras de músicas, coleciona
souvenires.
Se
ela não tem um santo bagaceiro, a situação é ainda mais grave: ela é completamente
brega. Ter unzinho previne outros.
Custei
a aceitar a cota. No meu primeiro casamento, minha esposa era apaixonada por
Dalto. Quando perdia a discussão de relacionamento, cantava em tom sarcástico:
Hum!
Mas se um dia eu chegar
Muito
estranho...Deixa essa água no corpo
Lembrar
nosso banho...Hum! Mas se um dia eu chegar
Muito
louco...Deixa essa noite saber que um dia
Foi
pouco... Ela esbravejava, batia a porta na cara, me insultava, e eu ganhava seu
rancor por dois dias.
Já no
meu segundo casamento, fui além, atravessei a fronteira do ódio. Não admitia a
existência do LP Menina Veneno, do Ritchie, no carro. Ela apresentava para as
caronas com inominável orgulho. Sentei por querer no disco, e despedacei também
o relacionamento.
Aprendi
a respeitar os mitos cults na marra. Porque é engraçado e bonito que a namorada
mantenha uma paixão platônica da infância. Sugere cuidado com a memória, e
respeito com nossa porção ingênua de criança.
Tudo
bem que é um sujeito de reputação duvidosa, mas ela não desaprenderá a rezar. É
tempo perdido convencer que é uma decadência, uma vergonha, que ela não tem
mais credibilidade para falar dos filmes de Woody Allen. A razão não vai fazer
diferença. Os debates não pousarão em lugar algum. O ídolo está guardado em um
esconderijo emocional ignorado, num cativeiro amoroso sigiloso, sem acesso
pelas estradas da linguagem.
É um
nome apenas, um só que precisa aguentar pelo resto da vida. É nada de sua
parte, agradeceria a ressalva, você deve ter uns 11 jogadores malas que ela
escuta semanalmente de sua boca.
Vale
a pena não buzinar barbaridades, não azucrinar no final de semana quando ela
deseja reencontrar seu passado. Saia de perto se não aguenta.
É um
nome que merece inteira imunidade ideológica. Não precisa ter medo. Ela não vai
transar com ele, invadir o camarim, jogar a calcinha no palco.
É uma
referência para desafiar o pai, o ídolo, no fim, está do seu lado.
Acho
que eu já estou maduro para enfrentar Fábio Júnior. Que venha! Pode trazer o Fiuk.
Nenhum comentário:
Postar um comentário