Moinhos de luz
Noivos,
como Diandra e Lucas, procuram frequentemente os Jardins do DMAE para ensaio
fotográfico
Foto:
Adriana Franciosi / Agencia RBS - Rosane de Oliveira
Varia
de tempos em tempos o metro quadrado mais caro de Porto Alegre, mas o mais raro
é o mesmo há muitos anos: o bairro Moinhos de Vento. Corretores de imóveis têm
calafrios quando o cliente diz que procura um apartamento, casa ou escritório
com determinadas características, mas tem de ser no Moinhos. Porque são raras
as novas construções, e quem mora no bairro resiste em mudar para outro.
O
que faz do Moinhos de Vento um bairro tão especial é uma combinação de ingredientes
difíceis de encontrar reunidos em outras áreas: localização próxima do Centro e
do aeroporto sem os inconvenientes de estar perto demais, parques e praças bem
cuidados, ruas arborizadas, bares, cafés, restaurantes, cinema, lojas de ruas,
o hotel preferido das estrelas (o Sheraton) e todos os serviços que se possa
imaginar. Não seria exagero dizer que o Moinhos é uma cidade dentro da cidade.
Nenhum
bairro tem mais academias de ginástica, salões de beleza, clínicas de cirurgia
plástica, lavanderias (a Golfinho é um caso de MBA em atendimento), farmácias,
consultórios de médicos e dentistas por metro quadrado. Dois hospitais,
clínicas de fisioterapia, pronto-socorro e escritórios de advocacia em profusão
completam o cardápio de serviços que atraem tantas pessoas de outros pontos da
cidade.
Pelos
dados do último censo, é o bairro com o maior percentual de idosos. Pelo que se
vê nas ruas, é o que tem uma das maiores concentrações de jovens — residentes,
alunos de colégios e cursinhos pré-vestibular, trabalhadores de escritórios,
frequentadores dos bares e restaurantes que se espalham pelo entorno da Rua
Padre Chagas. Se considerar as adjacências, o Grande Moinhos oferece comida
japonesa, portuguesa, tailandesa, espanhola, italiana, alemã, mediterrânea, uruguaia
e brasileira, naturalmente.
É no
Parcão, o espaço mais democrático do bairro, que todas as gerações se
encontram. Da manhã à noite, pais passeiam com bebês, homens e mulheres se
exercitam para perder peso e/ou ganhar saúde, jovens sarados exibem sua boa
forma. É no Parcão que há mais de 10 anos o professor chinês Elio Lee dá aulas
de tai chi chuan integrado à natureza.
É no
Parcão que há mais de 20 anos o governador Tarso Genro e sua mulher, Sandra,
caminham nas primeiras horas da manhã. O aumento da insegurança na cidade — e o
Moinhos não é exceção — acabou com a tradição dos anos 1980, quando os casais
namoravam de madrugada dentro dos carros estacionados na Comendador Caminha.
Para
quem quer sossego ao ar livre, os jardins do DMAE são a melhor das opções. É
raro o dia em que não se encontra um fotógrafo ou cinegrafista profissional
usando o jardim como cenário para book de candidatas a modelo, comerciais de
TV, ensaios para álbuns de noivos. Com casamento marcado para o dia 23 de
março, Diandra Ávila de Moura, 20 anos, e Lucas Favretto, 23, vieram de
Gravataí duas semanas antes para fazer o ensaio fotográfico do álbum de
recordações. O local foi sugestão do fotógrafo. Diandra adorou:
— O
lugar é lindo. Valeu a pena ter vindo de Gravataí toda produzida para tirar as
fotos.
Outra
noiva, Laila Welter, advogada de 29 anos, moradora do Jardim Botânico, fez do
Moinhos cenário para a despedida de solteira. Com sete amigas, desfilou a bordo
de uma limusine, brindando com champanhe à nova vida que começaria com o
engenheiro Fernando Dal Piva. O passeio de uma hora e meia foi presente das
madrinhas.
Laila
(D) fez sua despedida de solteira a bordo de uma limusine, pelas ruas do
Moinhos - Foto: Arquivo pessoal
Enquanto
Laila circulava de limusine pela Fernando Gomes e Padre Chagas, outro grupo de
amigas se divertia no Boteco Natalício, um bar que ganhou fama no Centro e
abriu uma filial na esquina da Félix da Cunha com a Tobias da Silva. Eram integrantes
da confraria As Delirantes, um grupo de mulheres bonitas e independentes, na
faixa dos 30 anos, quase todas profissionais liberais que, uma vez por mês,
deixam maridos e namorados em casa ou no futebol e se reúnem em um bar com a
única obrigação de se divertir.
A
psicóloga Vanessa Samrsla, uma das "delirantes", mora perto do
Iguatemi, mas sente-se em casa no Moinhos, até porque o marido é dono de uma
tradicional cervejaria com unidades na Rua Castro Alves e na Barão de Santo
Ângelo. Pelo número de bares, o Moinhos é o preferido para os encontro das
"delirantes" — o nome da confraria é inspirado na cerveja Delirium.
Para
não parecer que o Moinhos é a Ilha da Fantasia, convém falar um pouco dos
problemas. O primeiro é a acessibilidade. O estado das calçadas é um pesadelo
para pessoas com deficiência e para carrinhos de bebês. O bairro seria melhor
se os motoristas que por ele circulam fossem mais educados, respeitassem o
pedestre e não buzinassem tanto.
O
trânsito é infernal nas horas de pico, a área azul nos dois lados de ruas
estreitas como a Hilário Ribeiro aumenta os congestionamentos, faltam vagas de
estacionamento e roubam-se carros à luz do dia. Nada muito diferente do que
ocorre em outras áreas da cidade, mas chocante para um bairro que exibe a
classificação de "nobre".
Nenhum comentário:
Postar um comentário