terça-feira, 26 de março de 2013


Moinhos de luz


Noivos, como Diandra e Lucas, procuram frequentemente os Jardins do DMAE para ensaio fotográfico
Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS - Rosane de Oliveira

Varia de tempos em tempos o metro quadrado mais caro de Porto Alegre, mas o mais raro é o mesmo há muitos anos: o bairro Moinhos de Vento. Corretores de imóveis têm calafrios quando o cliente diz que procura um apartamento, casa ou escritório com determinadas características, mas tem de ser no Moinhos. Porque são raras as novas construções, e quem mora no bairro resiste em mudar para outro.

O que faz do Moinhos de Vento um bairro tão especial é uma combinação de ingredientes difíceis de encontrar reunidos em outras áreas: localização próxima do Centro e do aeroporto sem os inconvenientes de estar perto demais, parques e praças bem cuidados, ruas arborizadas, bares, cafés, restaurantes, cinema, lojas de ruas, o hotel preferido das estrelas (o Sheraton) e todos os serviços que se possa imaginar. Não seria exagero dizer que o Moinhos é uma cidade dentro da cidade.

Nenhum bairro tem mais academias de ginástica, salões de beleza, clínicas de cirurgia plástica, lavanderias (a Golfinho é um caso de MBA em atendimento), farmácias, consultórios de médicos e dentistas por metro quadrado. Dois hospitais, clínicas de fisioterapia, pronto-socorro e escritórios de advocacia em profusão completam o cardápio de serviços que atraem tantas pessoas de outros pontos da cidade.

Pelos dados do último censo, é o bairro com o maior percentual de idosos. Pelo que se vê nas ruas, é o que tem uma das maiores concentrações de jovens — residentes, alunos de colégios e cursinhos pré-vestibular, trabalhadores de escritórios, frequentadores dos bares e restaurantes que se espalham pelo entorno da Rua Padre Chagas. Se considerar as adjacências, o Grande Moinhos oferece comida japonesa, portuguesa, tailandesa, espanhola, italiana, alemã, mediterrânea, uruguaia e brasileira, naturalmente.

É no Parcão, o espaço mais democrático do bairro, que todas as gerações se encontram. Da manhã à noite, pais passeiam com bebês, homens e mulheres se exercitam para perder peso e/ou ganhar saúde, jovens sarados exibem sua boa forma. É no Parcão que há mais de 10 anos o professor chinês Elio Lee dá aulas de tai chi chuan integrado à natureza.

É no Parcão que há mais de 20 anos o governador Tarso Genro e sua mulher, Sandra, caminham nas primeiras horas da manhã. O aumento da insegurança na cidade — e o Moinhos não é exceção — acabou com a tradição dos anos 1980, quando os casais namoravam de madrugada dentro dos carros estacionados na Comendador Caminha.

Para quem quer sossego ao ar livre, os jardins do DMAE são a melhor das opções. É raro o dia em que não se encontra um fotógrafo ou cinegrafista profissional usando o jardim como cenário para book de candidatas a modelo, comerciais de TV, ensaios para álbuns de noivos. Com casamento marcado para o dia 23 de março, Diandra Ávila de Moura, 20 anos, e Lucas Favretto, 23, vieram de Gravataí duas semanas antes para fazer o ensaio fotográfico do álbum de recordações. O local foi sugestão do fotógrafo. Diandra adorou:

— O lugar é lindo. Valeu a pena ter vindo de Gravataí toda produzida para tirar as fotos.

Outra noiva, Laila Welter, advogada de 29 anos, moradora do Jardim Botânico, fez do Moinhos cenário para a despedida de solteira. Com sete amigas, desfilou a bordo de uma limusine, brindando com champanhe à nova vida que começaria com o engenheiro Fernando Dal Piva. O passeio de uma hora e meia foi presente das madrinhas.

Laila (D) fez sua despedida de solteira a bordo de uma limusine, pelas ruas do Moinhos - Foto: Arquivo pessoal

Enquanto Laila circulava de limusine pela Fernando Gomes e Padre Chagas, outro grupo de amigas se divertia no Boteco Natalício, um bar que ganhou fama no Centro e abriu uma filial na esquina da Félix da Cunha com a Tobias da Silva. Eram integrantes da confraria As Delirantes, um grupo de mulheres bonitas e independentes, na faixa dos 30 anos, quase todas profissionais liberais que, uma vez por mês, deixam maridos e namorados em casa ou no futebol e se reúnem em um bar com a única obrigação de se divertir.

A psicóloga Vanessa Samrsla, uma das "delirantes", mora perto do Iguatemi, mas sente-se em casa no Moinhos, até porque o marido é dono de uma tradicional cervejaria com unidades na Rua Castro Alves e na Barão de Santo Ângelo. Pelo número de bares, o Moinhos é o preferido para os encontro das "delirantes" — o nome da confraria é inspirado na cerveja Delirium.

Para não parecer que o Moinhos é a Ilha da Fantasia, convém falar um pouco dos problemas. O primeiro é a acessibilidade. O estado das calçadas é um pesadelo para pessoas com deficiência e para carrinhos de bebês. O bairro seria melhor se os motoristas que por ele circulam fossem mais educados, respeitassem o pedestre e não buzinassem tanto.

O trânsito é infernal nas horas de pico, a área azul nos dois lados de ruas estreitas como a Hilário Ribeiro aumenta os congestionamentos, faltam vagas de estacionamento e roubam-se carros à luz do dia. Nada muito diferente do que ocorre em outras áreas da cidade, mas chocante para um bairro que exibe a classificação de "nobre".

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