sexta-feira, 29 de março de 2013



Não podemos nos dispersar

A Via - para o futuro da humanidade, obra mais recente do parisiense Edgar Morin, nascido em 1921, um dos maiores pensadores contemporâneos, em síntese enfoca o caminho para a reestruturação de práticas e pensamentos coletivos na sociedade. Ao fim e ao cabo, Morin, autor de Cabeça bem-feita e A religação dos saberes, entre outras obras fundamentais, responde à seguinte pergunta: estamos caminhando para uma cadeia de desastres?

Para dar conta da questão, o autor dividiu o volume em quatro partes. A regeneração das relações sociais e a busca de alternativas para reduzir a pobreza e a desigualdade; as bases da democracia cognitiva, da reforma e da educação, da formação de intelectuais policompetentes e multidimensionais; os problemas cotidianos e as reformas morais necessárias, no campo da medicina e relações familiares, por exemplo.

Conflitos étnicos, religiosos, políticos, instabilidade econômica, degradação da biosfera, derrocada das sociedades tradicionais e, ao mesmo tempo, da modernidade, eis o cenário de nosso tempo. Mesmo com melancolia, mesmo sentindo que não estará presente num futuro breve, o velho mestre não desiste da esperança de um mundo melhor.

Mesmo com as inúmeras crises e os vários conflitos, cujos responsáveis diretos são a mundialização, a ocidentalização e o desenvolvimento, Morin vê dois caminhos para a humanidade: o abismo ou a metamorfose. Para ir rumo ao primeiro, não é necessário muito esforço, pois nossas carências e incompreensões nos levam fácil para lá.

Para ir na direção do segundo, é preciso muito cuidado na busca da direção certa. Para um futuro melhor, é preciso reestruturar práticas e pensamentos coletivos em nossa sociedade, algo que somente será viável quando se toma a metamorfose como meta prioritária, utopia realizável, sonho possível.

“Boas ideias são raras, demoram muito tempo para se concretizar. É preciso, portanto, engajar-se com ardor, paciência e revolta nas vias reformadoras para que a Via se estabeleça e se concretize na contramão das desigualdades, das intolerâncias, dos tecnoprofetismos que se espalharam sobre a face da Terra-Pátria”, escreve Edgard de Assis Carvalho na apresentação.

É isso, não podemos nos dispersar. “Eu reúno o disperso” é o mote de Morin, que pode ser o mote de todos.  O autor pensa num segundo volume. Bertrand Brasil, 392 páginas, tradução de Edgard de Assis Carvalho e Mariza Perassi Bosco, mdireto@record.com.br.

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