BARBARA
GANCIA
Um papa para neutralizar o
populismo
Já existiu
um garoto-propaganda mais influente na cultura ocidental do que Jesus Cristo?
"MARISA,
PODE colocar as brejas pra gelar!" Penso que deve ter sido a única vez na
vida em que soltaram rojão lá em São Bernardo diante de um placar final favorável
à Argentina.
Já imaginou
se, no lugar do jesuíta com pinta de Pio 12, tivessem escolhido dom Odilo
Scherer? O papa brasileiro viraria herói nacional, um novo Ayrton Senna. E Lula
arriscaria cair para segundo plano.
Não é
nada fácil ser mais popular do que um papa. Pense só: quem consegue competir
com a força da imagem do símbolo cruz? Por acaso o logo da Apple? Existe garoto-propaganda
mais influente no Ocidente do que Jesus? Pergunte a Woody Allen se os judeus não
estão correndo atrás do prejuízo até hoje.
E
que valor teria um discurso do Lula dizendo ser o novo Abraham Lincoln diante
da voz de um papa brasileiro sacudindo seu dedinho com o anel de Pedro, dançando
abraçado ao padre Marcelo e dizendo: "Nananina, Jesus não concordaria com
nada disso do que Lula está dizendo". Não é da oposição merreca do PSDB
que estamos falando, né não?
Por
um motivo ou outro, como já disse aqui, não necessito de intermediários em
minha interlocução com Cristo. Tampouco preciso que essa ponte seja feita por
uma instituição como o Vaticano, que tem o péssimo hábito de descuidar de suas
finanças e foi liderada até recentemente por um deslumbrado teutônico de
sapatinhos vermelhos de verniz da Prada cuja melhor amiga e confidente vem a
ser Gloria von Thurn Und Taxis, figura carimbada em São Paulo por anos a fio e
muy amiga do artista plástico Ivald Granato, meu chapinha.
O ex-marido
de dona Gloria, um dos irmãos Flick, herdeiro da Mercedes-Benz, alugava um
apartamento da minha família, na Suíça, só para alojar seus empregados domésticos
nas férias.
Ela
faz parte do grupo íntimo de Bento 16 e é do tipo que tem visões da Virgem de
Guadalupe antes mesmo de tomar o primeiro Steinhäger da noite, uma espécie de
Baby Consuelo da Baviera. Quisera estar inventando tudo isto.
Mas
voltando à felicidade de Lula, mesmo não tendo sido dom Odilo o escolhido, há razão
para preocupação por parte da esquerda latino-americana.
O
Vaticano acertou sua jogada de marketing. Chutou para escanteio seu lixo e
chamou para o centro do campo a preocupação com o avanço das igrejas televangélicas
que lhe roubam fiéis e fazem qualquer tipo de acerto com o populismo para
ocupar o poder na América Latina.
Um
continente, diga-se, que a despeito da globalização, prefere insistir em variações
paternalistas de modelo chavista ou peronista liderados por "pais dos
pobres" carismáticos, dos quais a população continua a exigir garantias de
emprego, educação, saúde, enfim, de tudo menos reformas que combatam a corrupção
e em que primitivos sistemas de referendos e cooperativas sejam substituídas
pela economia de mercado e instituições que formem democracias representativas
de base sólida.
Espertinho
esse Vaticano. A eleição do papa argentino não tem como não lembrar a eleição
do papa polonês, Karol Wojtyla, que coincidiu com o nascimento do movimento
Solidarnosc na época da ruína da União Soviética e culminou na ruína do
comunismo.
Hoje,
o planeta está mais fragmentado e a Igreja Católica não exerce o mesmo poder de
antes. Porém, sobre o terreno mais valorizado de toda capital do mundo ainda há
uma igreja. Ou seja, no mínimo, o Vaticano possui a carteira de imóveis mais
invejável do cosmos. E não se deve subestimar uma "empresa" com mais
de 1 bilhão de clientes e cuja marca é mais reconhecida do que Ford, Apple e
Coca-Cola. Poderia ter sido pior. Mas eu ainda tremeria se fosse o Lula.
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