sexta-feira, 15 de março de 2013


BARBARA GANCIA

Um papa para neutralizar o populismo

Já existiu um garoto-propaganda mais influente na cultura ocidental do que Jesus Cristo?

"MARISA, PODE colocar as brejas pra gelar!" Penso que deve ter sido a única vez na vida em que soltaram rojão lá em São Bernardo diante de um placar final favorável à Argentina.

Já imaginou se, no lugar do jesuíta com pinta de Pio 12, tivessem escolhido dom Odilo Scherer? O papa brasileiro viraria herói nacional, um novo Ayrton Senna. E Lula arriscaria cair para segundo plano.

Não é nada fácil ser mais popular do que um papa. Pense só: quem consegue competir com a força da imagem do símbolo cruz? Por acaso o logo da Apple? Existe garoto-propaganda mais influente no Ocidente do que Jesus? Pergunte a Woody Allen se os judeus não estão correndo atrás do prejuízo até hoje.

E que valor teria um discurso do Lula dizendo ser o novo Abraham Lincoln diante da voz de um papa brasileiro sacudindo seu dedinho com o anel de Pedro, dançando abraçado ao padre Marcelo e dizendo: "Nananina, Jesus não concordaria com nada disso do que Lula está dizendo". Não é da oposição merreca do PSDB que estamos falando, né não?

Por um motivo ou outro, como já disse aqui, não necessito de intermediários em minha interlocução com Cristo. Tampouco preciso que essa ponte seja feita por uma instituição como o Vaticano, que tem o péssimo hábito de descuidar de suas finanças e foi liderada até recentemente por um deslumbrado teutônico de sapatinhos vermelhos de verniz da Prada cuja melhor amiga e confidente vem a ser Gloria von Thurn Und Taxis, figura carimbada em São Paulo por anos a fio e muy amiga do artista plástico Ivald Granato, meu chapinha.

O ex-marido de dona Gloria, um dos irmãos Flick, herdeiro da Mercedes-Benz, alugava um apartamento da minha família, na Suíça, só para alojar seus empregados domésticos nas férias.

Ela faz parte do grupo íntimo de Bento 16 e é do tipo que tem visões da Virgem de Guadalupe antes mesmo de tomar o primeiro Steinhäger da noite, uma espécie de Baby Consuelo da Baviera. Quisera estar inventando tudo isto.

Mas voltando à felicidade de Lula, mesmo não tendo sido dom Odilo o escolhido, há razão para preocupação por parte da esquerda latino-americana.

O Vaticano acertou sua jogada de marketing. Chutou para escanteio seu lixo e chamou para o centro do campo a preocupação com o avanço das igrejas televangélicas que lhe roubam fiéis e fazem qualquer tipo de acerto com o populismo para ocupar o poder na América Latina.

Um continente, diga-se, que a despeito da globalização, prefere insistir em variações paternalistas de modelo chavista ou peronista liderados por "pais dos pobres" carismáticos, dos quais a população continua a exigir garantias de emprego, educação, saúde, enfim, de tudo menos reformas que combatam a corrupção e em que primitivos sistemas de referendos e cooperativas sejam substituídas pela economia de mercado e instituições que formem democracias representativas de base sólida.

Espertinho esse Vaticano. A eleição do papa argentino não tem como não lembrar a eleição do papa polonês, Karol Wojtyla, que coincidiu com o nascimento do movimento Solidarnosc na época da ruína da União Soviética e culminou na ruína do comunismo.

Hoje, o planeta está mais fragmentado e a Igreja Católica não exerce o mesmo poder de antes. Porém, sobre o terreno mais valorizado de toda capital do mundo ainda há uma igreja. Ou seja, no mínimo, o Vaticano possui a carteira de imóveis mais invejável do cosmos. E não se deve subestimar uma "empresa" com mais de 1 bilhão de clientes e cuja marca é mais reconhecida do que Ford, Apple e Coca-Cola. Poderia ter sido pior. Mas eu ainda tremeria se fosse o Lula.

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