26
de março de 2013 | N° 17383
PAULO
SANT’ANA
O gênio nos outros
Ouvi
ontem atentamente a entrevista que o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo
Vieira Júnior, concedeu ao programa Atualidade.
Ele
esclareceu totalmente a posição do inquérito policial quanto ao provável
envolvimento penal do prefeito Cezar Schirmer na tragédia de Santa Maria.
Declarou
o chefe da polícia que o inquérito apenas levantou a possibilidade de que o
prefeito pudesse ter cometido negligência ou improbidade administrativa.
Ou
seja, em outras palavras, a autoridade policial sugeriu ao Ministério Público
que investigue a participação ou não do prefeito na autoria dos deslizes, não o
indiciou, até mesmo porque tecnicamente não podia fazê-lo pelo foro
privilegiado, apenas apontou-o como provável autor de delito.
No
momento em que tanto se valoriza o inquérito policial como fonte das primícias
apurativas, é bom que se deixe claro que a polícia de nada acusou formalmente
Cezar Schirmer.
Acima,
fiz apenas uma análise, agora vou dar minha opinião, no instante em que setores
da defesa dos acusados e outros círculos opinam que o governador Tarso Genro
deveria também ser apontado como responsável, a exemplo do que ocorreu com o
prefeito.
Minha
opinião é a seguinte: não tem cabimento envolver o governador nesse imbróglio. Porque
é muito grande, quase remota, a distância entre atos omissivos dos bombeiros do
múnus da governadoria. Não é só uma distância territorial dos fatos, mas também
administrativa.
Quase
da mesma forma, com o prefeito, cuja distância administrativa dos fatos se dá pelo
fato de que me parece que nunca houve, por assim dizer, qualquer irregularidade
constatada na concessão dos alvarás da prefeitura ao prédio da boate, antes da
tragédia.
Se
se tivesse notado qualquer mínimo alarde na concessão dos alvarás, então se
podia responsabilizar o prefeito, que teria de aprofundar-se na questão e não o
havia feito.
Em
suma, para usar uma expressão que ficou célebre no julgamento do mensalão lá no
Supremo, o governador e o prefeito não tinham domínio do fato, por isso são
inocentes.
Da série
que exercito há muito tempo “Ele não me cita mas eu o cito” : o colega Luis
Fernando Verissimo foi altissonantemente brilhante quando escreveu em sua
coluna de ontem em ZH o seguinte tópico: “E quando chegar a hora de
aproveitarmos toda a experiência que acumulamos com o tempo, tudo que a vida
nos ensinou através dos anos, toda a sabedoria, toda a filosofia, todo o
savoarfer, não teremos mais a energia. Será um pouco como amontoar tanta coisa
no lombo de um burro que ele não consegue sair do lugar”.
Não
sou como certos invejosos que não reconhecem gênio nos outros.
Eu
reconheço até mesmo em mim.
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