DANUZA
LEÃO
A PEC das empregadas
Se
essa PEC não for muito bem discutida, pode acabar em desemprego
Essa
Pec das empregadas precisa ser muito discutida; como foi mal concebida, assim
será difícil de ser cumprida, e aí todos vão perder.
A
intenção de dar as melhores condições à profissional, faz com que seja quase
impossível que o empregador tenha meios de cumprir com as novas leis; afinal,
quem vai pagar esse salário é uma pessoa física, não uma empresa.
Vou
fazer alguns comentários sobre as condições -diferentes- em que trabalham as
domésticas aqui e em países mais civilizados.
Vou
falar da França e dos Estados Unidos, que são os que mais conheço. Lá, quem
mora em apartamento de dois quartos e sala, é considerada privilegiada, mas
nenhum deles tem área de serviço nem quarto de empregada (costuma existir uma área
comunitária no prédio com várias máquinas de lavar e secar, em que cada morador
paga pelo tempo que usa); uma família que vive num apartamento desses tem -quando
tem- uma profissional que vem uma vez por semana, por um par de horas.
É claro
que cada um faz sua cama e lava seu prato, e a maioria come na rua; nessas
cidades existem dezenas de pequenos restaurantes, e por preços mais do que razoáveis.
Apartamentos
grandes, de gente rica, têm quarto de empregada no último andar do prédio (as
chamadas "chambres de bonne", que passaram a ser alugadas aos
estudantes), ou no térreo, completamente separados e independentes da família
para quem trabalham.
Essas
domésticas -fixas e raras- têm salario mensal, e sua carga horária é de 8 horas
por dia, distribuídas assim: das 8h às 14h (portanto, 6 horas seguidas) arrumam,
fazem o almoço, põem a casa em ordem. Aí param, descansam, estudam, vão ao
cinema ou namoram; voltam às 19h, cuidam do jantar rapidinho (lá ninguém
descasca batata nem rala cenoura nem faz refogado, porque tudo já é comprado
praticamente pronto), e às 21h, trabalho encerrado.
Mas
no Brasil, muitos apartamentos de quarto e sala têm quarto de empregada, e se a
profissional mora no emprego, fica difícil estipular o que é hora extra, fora o
"Maria, me traz um copo de água?". E a ideia de dar auxílio creche e
educação para menores de 5 anos dos empregados, é sonho de uma noite de verão,
pois se os patrões mal conseguem arcar com as despesas dos próprios filhos,
imagine com os da empregada.
Quem
vai empregar uma jovem com dois filhos pequenos, se tiver que pagar pela creche
e educação dessas crianças? É desemprego na certa.
Outra
coisa esquecida: na maior parte das cidades do Brasil uma empregada encara
duas, três horas em mais de uma condução para chegar ao trabalho, e mais duas
ou três para voltar para casa, o que faz toda a diferença: o transporte público
no país é trágico. Atenção: não estou dando soluções, estou mostrando as
dificuldades.
Na
França, quando um casal normal, em que os dois trabalham, têm um filho, existem
creches do governo (de graça) que faz com que uma babá não seja necessária, mas
no Brasil? Ou a mãe larga o emprego para cuidar do filho ou tem que ser uma
executiva de salário altíssimo para poder pagar uma creche particular ou uma
babá em tempo integral, olha a complicação.
Nenhum
país tem os benefícios trabalhistas iguais aos do Brasil, mas isso funciona
quando as carteiras das empregadas são assinadas, o que não acontece na maioria
dos casos; e além da hora extra, por que não regulamentar também o trabalho por
hora, fácil de ser regularizado, pois pago a cada vez que é realizado? Se essa
PEC não for muito bem discutida, pode acabar em desemprego.
P.S.:
É difícil saber quem saiu pior na foto esta semana: se d. Dilma, dizendo em
Roma que a culpa pelas tragédias de Petrópolis se deve às vítimas, que não
quiseram sair de suas casas, ou se Cristina Kirchner, pedindo ajuda ao papa no assunto
das Malvinas.
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