17
de março de 2013 | N° 17374
QUASE
PERFEITO | FABRÍCIO CARPINEJAR
O amor depois do
divórcio
Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os
terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras sabem.
Nunca
houve tanta reconciliação. Mais do que casamento e divórcio.
A
reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que se converteu à lei. O amor
bêbado que largou o álcool. O amor drogado que fugiu dos vícios.
A
reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da perseguição dos
defeitos e da distorção das conversas.
É o
amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da maldade da sinceridade,
depois da carência.
Casais
que se prometeram o inferno, que disputaram a guarda na Justiça, que
enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a morar junto,
para temor dos vizinhos, para o susto da parentada.
A
reconciliação é uma moda entre os divorciados.
Mal
se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas
os mesmos parceiros são outros. Outros novos. A
distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança.
Eles
experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma
idealização.
Enfrentaram
relacionamentos diferentes, exageros e excessos, contemporizaram os medos e as
rejeições, provaram de frustrações amorosas.
Viram
que o príncipe se vestia mal, e o sapo coaxava bonito. Viram
que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o
amor e ponto.
Este
amor provisório, inconstante, inacabado e vivo.
Este
amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as
lágrimas.
Quem
era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento.
A
trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no dia-a-dia
aquilo que não admitia fazer e que o outro recomendava. O
que soava como crítica antigamente passa a ser conselho.
Gordos
emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria.
A
saudade era um recalque e se transforma em sabedoria. O
par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente.
Durante
a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência. A
separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos
da discórdia.
Já a
reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e
esquecem as falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o entendimento. A
reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de
brigar por besteiras e intrigas.
O
amor que é mão dada entre o erro e o perdão. Mas que agora pretende envelhecer
de mãos dadas para sempre.
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