DANUZA
LEÃO
O assunto do dia
Assim
é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária
Quem
sempre teve uma relação correta com sua empregada está tranquilo. Afinal, férias,
13º, INSS, são coisas que nem precisariam de lei para existir, e além de serem
justas, fazem com que as relações entre empregada/empregador sejam amenas e pacíficas,
o que torna a vida melhor para todos.
Mas
nenhuma lei é perfeita, vide a proibição de dirigir depois de beber; se é possível
se recusar a fazer o teste, que lei é essa?
Uma
das coisas mal resolvidas é a carga horária. A ideia é que sejam até 44 horas
semanais, praticamente nove horas de trabalho de segunda a sexta, o que é demais
para qualquer mortal, já que esse trabalho é, na maior parte das vezes, físico,
e descansar uma hora, no meio do expediente, como, onde? Na sala, vendo TV?
Por
outro lado, não há quem precise de uma doméstica tantas horas seguidas, a não
ser uma família com pai, mãe e quatro filhos, em que ninguém arruma sua cama,
as roupas são largadas pelo chão, cada um almoça e janta na hora que quer, e aí
nem as nove horas diárias vão ser suficientes. Já pensou, explicar aos
adolescentes -e seus amigos, já que eles só andam em turma- que não dá para
pedir vários lanchinhos várias vezes por dia?
Por
tudo isso e mais alguma coisa, acho que esqueceram de falar, nessa nova lei, da
remuneração por hora de trabalho. Afinal, o horário de uma diarista varia: existem
as que trabalham duas horas, três, quatro ou cinco -e outras, nove.
Os
que moram em apartamentos grandes vão precisar de uma empregada em tempo
integral e vão pagar por isso; mas para quem vive num quarto e sala, duas horas
de trabalho, duas vezes por semana, são mais do que suficientes.
É claro
que o preço para duas horas não é o mesmo que para nove, e quem tem um emprego
de duas horas, duas vezes por semana, pode perfeitamente ter mais dois ou três (empregos).
E
mais: se o empregador tiver que pagar auxílio-creche, auxílio-colégio, salário
família e estabilidade em caso de gravidez, então só sendo milionário para
poder ter uma empregada. Aliás, só pra saber: se for estipulado o preço da hora
de trabalho, o preço vai ser o mesmo para quem mora em Caxias e o quem tem uma
cobertura com piscina na Delfim Moreira? Só pra saber.
Tenho
passado as noites em claro, apavorada, já que sou totalmente dependente de uma
ajuda doméstica. Já tive vários tipos de vida, desde morar em apartamento
grande e ter três empregadas, a um pequeno conjugado onde alguém vinha uma vez
por semana dar aquele toque de talento que Deus não me deu.
Que
felicidade, entrar numa casa, seja ela imensa ou mínima, e sentir que por ali
passou uma abençoada mão de fada. Eu troco essa ajuda por qualquer vestido,
qualquer carro, qualquer viagem, qualquer joia, porque para mim esse é o maior
dos luxos: uma casa bem arrumada e cheirosa.
E
espero que as novas leis me permitam, sempre, pagar o que merece a dona desse
talento, que para mim vale ouro. Mas a partir de agora vou prestar atenção e
contratar mães de filhos já crescidos, até porque em qualquer lugar do mundo a
obrigação de dar creche e colégio é do governo.
Assim
é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária. E se
não der certo? Demitir vai sair tão caro que trabalhar como arrumadeira será praticamente
ter estabilidade no emprego, como os funcionários públicos; e demissão,
praticamente, só por justa causa.
Aliás,
o que é que caracteriza a justa causa? As empregadoras não sabem, mas pergunte
a qualquer candidata a um emprego doméstico; todas elas sabem, na ponta da língua,
o que não podem fazer, para não correrem o risco de uma justa causa.
É curioso
o mundo moderno: um marido pode ser dispensado por incompatibilidade de gênios,
e uma empregada doméstica não.
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