27
de março de 2013 | N° 17384
EDITORIAIS
ZH
DIREITO À IGUALDADE
Preteridos
tanto na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), de 1943, quanto na Constituição
Federal de 1988, os empregados domésticos estão finalmente mais próximos de
garantir direitos assegurados aos demais trabalhadores e das conquistas alcançadas
pela atividade em países avançados. Graças à Proposta de Emenda Constitucional 66/2012,
conhecida como PEC das Domésticas, que deve ser promulgada em abril, os
profissionais irão conquistar quase duas dezenas de direitos adicionais.
Ao
mesmo tempo, os empregadores passarão a arcar com uma elevação considerável de
custos, ainda na dependência da regulamentação de alguns itens. O importante,
nesse primeiro momento, é que a mudança histórica seja devidamente assimilada e
não venha a contribuir para o acirramento de tensões ou para desestabilizar uma
atividade que a cada ano ocupa um contingente menor.
De
alguma forma, a mudança legal surge como consequência natural de uma transformação
cultural que já vinha em processo acelerado nos últimos anos. Dos tempos da
escravidão ao atual, o trabalhador doméstico conquistou uma série de direitos,
entre os quais o de ter a carteira assinada, férias e salário mínimo, entre
outros.
É pouco,
porém, para quem tanto contribuiu para a ascensão social da classe média,
encarregando-se dos cuidados da casa, dos filhos e permitindo maior tranquilidade
para os empregadores exercerem suas atividades profissionais. Só mais
recentemente, as famílias nas quais um ou ambos os cônjuges exercem atividades
profissionais passaram a contar com maior acesso a creches para deixar as crianças
e com inovações tecnológicas que tornam mais práticos os cuidados com a casa no
cotidiano.
Simultaneamente,
o maior acesso ao ensino em anos recentes, facilitando as chances de
profissionalização, e a migração para modalidades como a de diaristas fizeram
com que os profissionais domésticos diminuíssem em número. Em consequência,
tornam-se cada vez mais caros.
O
avanço nos direitos, de qualquer forma, ocorre num momento em que o país ainda
ostenta o maior contingente do mundo de profissionais com atuação nesta área – 13,7%
do total de 52,6 milhões em atividade no planeta, conforme cálculos da Organização
Mundial do Trabalho (OIT). Entre todas as categorias de trabalhadores, e apesar
das conquistas recentes, os domésticos ainda se incluem entre os que menos têm
direitos mínimos respeitados e se defrontam no cotidiano com péssimas condições
de trabalho.
Diante
do descaso histórico, alguns itens da nova legislação precisarão ser bem
regulamentados para evitar conflitos dentro dos lares, já que tanto empregados
quanto empregadores têm dúvidas sobre a execução prática dos novos direitos. Apesar
dos temores naturais de toda mudança, a PEC das Domésticas é um avanço que
merece ser celebrado, pois vai impor uma transformação cultural nas relações
trabalhistas nos lares brasileiros.
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