30
de março de 2013 | N° 17387
NILSON
SOUZA
O portal do retorno
Muitos
brasileiros que saíram do país em busca de vida melhor estão voltando para casa
antes de completar seus projetos. Cada indivíduo tem a sua história e as suas
razões para retornar, que vão da dificuldade de adaptação ao país escolhido à crise
econômica mundial, que atinge mais fortemente a Europa.
O
fenômeno é tão significativo que o Itamaraty resolveu criar o Portal do
Retorno, um site que oferece informações burocráticas e oportunidades de
emprego aos que voltam. Bela iniciativa. Mostra que evoluímos do “ame-o ou
deixe-o”, o slogan excludente e autoritário dos tempos ditatoriais, para uma
visão acolhedora de mãe gentil a todos os filhos deste solo. Melhor, muito
melhor assim.
Sair
sempre é mais atraente do que retornar. O desafio de enfrentar o desconhecido é
irresistível, especialmente para as novas gerações, que já nascem com GPS no cérebro
e desconhecem as fronteiras do conformismo. Essa inquietude é que nos fez
atravessar oceanos, voar, abrir picadas no espaço sideral e transformar o mundo
numa aldeia global. Aplausos, portanto, para a garotada que se aventura. É daí que
se pode esperar um mundo melhor.
São
incontáveis, porém, os que batem com a cara na parede. Viver no Exterior nem
sempre é fácil, mesmo para quem encara sem maiores transtornos as barreiras do
idioma e dos costumes locais. O maior problema, de acordo com o relato dos que
voltam, é o tratamento indiferente (e não poucas vezes discriminatório) que
recebem. E muitos se queixam ao chegar que aqui também passam a ser tratados
como estrangeiros – razão principal da medida adotada pelo governo para
recepcioná-los melhor.
A
verdade é que ninguém volta igual depois de viver fora do país. Mesmo aqueles
que se consideram frustrados no aspecto econômico, trazem consigo uma bagagem
de experiência e de conhecimentos que jamais adquiririam se tivessem ficado em
casa olhando a vida passar.
O
verdadeiro portal do retorno é a partida, quando se deixa para trás a rotina e
se aguça os sentidos para o desconhecido. Ninguém sai para nunca mais voltar,
embora esse seja o destino de muitos. E o destino, como sabemos, também é um país
estranho.
Acompanhei
pelas redes sociais alguns relatos de jovens sobre a volta para casa. Os que
ficam acham graça das desculpas apresentadas pelos que decidiram voltar prematuramente.
A maioria alega que recebeu uma “proposta irresistível” para trabalhar no
Brasil. Como o nosso mercado de trabalho está aquecido, o argumento é válido e
até pode ser verdadeiro em determinados casos. Na maioria das vezes, porém, a
explicação esconde o constrangimento de admitir que a tentativa de vencer no
Exterior não deu certo.
Compreensível.
Porém, mais convincente e sincero seria usar como justificativa aquela
palavrinha que só existe a língua portuguesa e que expressa magistralmente os sentimentos
de perda, falta, distância e amor pela pátria: saudade.
Demos,
portanto, boas-vindas aos saudosos aventureiros que retornam ao país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário