sábado, 16 de março de 2013



17 de março de 2013 | N° 17374
PAULO SANT’ANA

A um amigo

Meu amigo, escrevo para ti, mandando-te notícias neste dia tão especial.

Quero te dizer que aqui permaneço em minha trincheira, fiel à nossa amizade.

Por onde fores, amigo, irei também trilhando as mesmas ruas.

Talvez já possas ter insinuado que me considero teu amigo para todas as horas, para o tempo do campo árido e sem flores e para o tempo das campinas verdejantes cobertas de lírios.

Amigo, Deus nos uniu por circunstâncias da vida. E noto que teima em não nos separar, por mais difícil e perigosa seja a interpessoalidade, sempre repleta de riscos de rompimentos.

Mas a nossa amizade permanece firme com todas as marés, como um rochedo.

Reparaste, amigo, que nossa obra é rigorosamente a mesma, que eu e tu nos atiramos em nossas vidas inteiras ao mesmo ideal, embora em ofícios diferentes.

Isso me dá o cutuco de que, ao fim de nossas vidas, teremos atingido a mesma e exata meta.

Então olharemos com orgulho o caminho que juntos percorremos.

Eu e tu temos o mesmo destino. Por isso, quando vou ao meu psiquiatra, o assunto entre o terapeuta e mim é sempre tu. E, quando vais ao teu analista, volta e meia o meu nome surge em meio ao diálogo da consulta.

Isso quer dizer que somos inseparáveis um do outro.

Isso quer dizer que de alguma forma a minha vida se amalgamou à tua, que não há como alguém deixar de me ver sem te enxergar.

E isso quer dizer que, quando avistam a tua obra, é inevitável que não me vejam no centro e seio dela.

Isso quer dizer que talvez sejamos a mesma pessoa, apenas nos distinguimos por personalidades diferentes, o que não tem nenhuma importância. Somos um só, indivisíveis.

Aqui na minha trincheira, vai tudo bem. Na tua sei que vai ainda melhor. Amigo, quem pode conhecer-te sem ambicionar ser teu amigo? Não por outra coisa, mas por tua fidelidade.

Amigo, que coisa boa ir dormir todos os dias sabendo que tu velas por mim, assim como velo por ti.

Às vezes, penso que foi Deus quem te pôs no meu caminho. E te pôs na minha trilha para amenizar as minhas dores, para tornar mais propícia a minha existência, para aplacar as minhas mágoas e consolar minhas enfermidades.

E pretendia eu que eu pudesse a ti servir como tu me serves. Acho imodestamente que de longe também te sirvo. Sinto que te incorporaste à minha família, como eu à tua.

Minha amizade contigo, portanto, não passa de uma transfusão de sangue. O que corre nas minhas veias é o mesmo que transita nas tuas. E esta coluna é apenas um dos reflexos que compõem a minha estima por ti.

Vida e saúde para ti, meu amigo, é o que desejo. E é tão grande a nossa amizade, que suspeito envergonhadamente que estou desejando isso também a mim próprio.

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