21
de março de 2013 | N° 17378
L. F.
VERISSIMO
Os coniventes
O ex-deputado
estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um ex-ativista político,
pois recentemente voltou à militância partidária no PDT apesar de limitado pela
saúde. Quando militava na resistência à ditadura, foi preso, junto com a Dilma,
e os dois foram torturados.
Depondo
diante da Comissão Nacional da Verdade, esta semana, sobre sua experiência, Araújo
lembrou a participação de empresários na repressão, muitas vezes assistindo à ou
incentivando a tortura. Que eu saiba, foi a primeira vez que um depoente tocou
no assunto nebuloso da cumplicidade do empresariado, através da famigerada
Operação Bandeirantes, em São Paulo, ou da iniciativa individual, no terrorismo
de Estado.
O
assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se
seguiu à queda do Collor e a revelação do esquema montado pelo P. C. Farias
para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual
alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas.
A
analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo
tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão
selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao
esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi
derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome
dos empresários que participaram do esquema. Nunca se fez a CPI, não dos
corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador
Pedro Simon.
No
caso da repressão, talvez se chegue à punição ou, no mínimo, à identificação,
de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis
coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão
da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.
A
comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os
dois maiores países da América do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá,
o terrorismo de Estado foi mais terrível do que aqui, e sua expiação – com a
condenação dos generais da repressão – está sendo mais rápida. Mas a rede de
cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente
será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles.
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