13 de março de 2013 | N°
17370
MARTHA MEDEIROS
Deus em promoção
Pouca coisa me escandaliza, mas
fiquei perplexa com o vídeo que andou circulando pela internet, que mostra um
culto da Assembleia de Deus conduzido pelo pastor Marco Feliciano – sim, o
polêmico presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados, o maior para-raios de encrencas da atualidade.
O vídeo mostra o momento da
coleta de dízimos e doações, a parte mercantilista da negociação dos fiéis com
o Pai Supremo, de quem o pastor se julga uma espécie de contador particular,
pelo visto.
Entre frases inibidoras, como
“Você vai mesmo ficar com esse dinheiro na sua carteira?”, dirigida a pessoas
da plateia, e estimulando que os trabalhadores cedam uma porcentagem do seu
salário dizendo “Aquele que crê dá um jeito”, aconteceu: alguém entregou seu
cartão de crédito nas mãos do pastor. No que ele retrucou: “Ah, mas, sem a
senha, não vale. Depois, vai pedir um milagre pra Deus, Ele não vai dar, e aí vai
dizer que Deus é ruim”.
Entendi bem? Deus está à venda?
Cobrando pelas graças solicitadas?
Essa colocação do pastor bastaria
para abrir uma CPI contra os caras de pau que, abusando da esperança de gente
sem muito tutano, arrecadam fortunas e depois vão fazer suas preces
particulares em algum resort em Miami. Quem dera houvesse um Joaquim Barbosa
para colocar ordem nesse galinheiro falsamente místico, mas quem ousa? Se essa
simples crônica já sofrerá retaliações, imagine alguém peitar judicialmente um representante
de Deus, ou que assim se anuncia.
Religiosidade é algo extremamente
respeitável. Cada um exerce a sua com a intensidade que lhe aprouver, de forma
saudável, a fim de conquistar bem-estar espiritual. Todas as pessoas religiosas
que conheço, e são inúmeras, nunca precisaram comprar sua fé nem dar nada em
troca – conquistaram-na gratuitamente através de cultura familiar ou de uma
necessidade pessoal de conforto e consolo que é absolutamente legítima.
Religião é, basicamente, isso:
conforto e consolo.
Já os crentes fazem parte de
outra turma. São os que acreditam cegamente em pecado, castigo, punição e numa
recompensa que só virá depois de algum sacrifício. Quando não pagam em espécie,
abrem mão de prazeres terrenos como forma de penitência, para se tornarem
dignos da vida eterna – que viagem.
É preciso ser muito iludido para
acreditar que pagar a conta de luz é menos importante do que pagar pelo milagre
encomendado a Deus através de seus “assessores” – e que, segundo o pastor Marco
Feliciano, só será realizado se você não tiver caído na malha fina do Serasa
Divino.
O que fazer para tirar os crentes
desse transe? Colocar na cadeia esses ilusionistas que se apresentam como
pastores? Duvido que ajude. A bispa Sonia e seu marido Estevam Hernandes foram
condenados por lavagem de dinheiro e de nada adiantou. Se fossem condenados por
lavagem cerebral, quem sabe.
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