20
de março de 2013 | N° 17377
MARTHA
MEDEIROS
Uma papa
singelo
É
cedo para saber como será a atuação política do papa Francisco. Porém, assim
que foi anunciado, ele não precisou nem de cinco minutos diante da multidão que
lotava a Praça de São Pedro para angariar uma simpatia praticamente unânime.
A
minha, ao menos, foi instantânea, bastou para isso a descontração do comentário
de que o haviam achado quase no fim do mundo – nada como o bom humor para
congregar, aproximar, romper carrancas e barreiras. A despeito da sua eleição
para uma função de tamanha relevância, estava ali, diante de todos, um homem,
um semelhante. Alguém familiar.
Não
acredito que, a partir de agora, os fiéis deixarão seus automóveis na garagem
para andar de ônibus (ainda que o trânsito e a poluição das cidades se
beneficiariam muito), ou que trocarão o uso do ouro pela prata, ou que
reprisarão qualquer outro gesto humilde já tornado público pelo Papa. No
entanto, é preciso, com urgência, captar o espírito dessa nova forma de exercer
liderança.
Liderar
não tem nada a ver com arrogância e empáfia, mas muitos ainda acreditam que sem
pose e ostentação não se conquista o respeito dos outros. Um engano lastimável.
Pode-se no máximo conseguir subserviência através de atitudes arrogantes, mas
respeito é um valor muito mais profundo e que só se cativa com honestidade – e
se formos honestos, de fato honestos, teremos que admitir que nossa importância
é a mesma que a de qualquer outra pessoa.
Podemos
ter lido mais, vivido experiências diversas, apreendido ensinamentos a que
alguns não tiveram acesso, mas de forma nenhuma isso justifica uma hierarquia
dominadora. Aliás, hierarquia é um conceito que me parece cada vez mais
obsoleto.
Numa
relação vertical, o “superior” ordena e os “inferiores” cumprem, e assim
elimina-se a troca, que é o elemento mais necessário para a evolução dos
costumes, das nações e dos relacionamentos. Trocar é horizontal. É o que
possibilita o olhar, o diálogo e a identificação.
No
instante em que eu contribuo para a sociedade com o que sei, e aceito que
colaborem comigo na mesma medida, me ensinando o que não sei, estabelece-se uma
relação producente e o respeito mais absoluto, aquele que não é fruto de
imposição, mas de admiração sincera.
Então,
mesmo sem poder adivinhar como será o pontificado desse nosso hermano, desde já
me sinto otimista por ele trazer em seu semblante a doçura dos que não se
deixam levar pela vaidade e dos que não consideram a modéstia uma fraqueza, e
sim resultado de uma consciente avaliação de si mesmo: somos todos iguais.
Frágeis, é verdade, porém todos capazes de doar-se a fim de tornar a vida mais
fácil para aqueles que nos cercam. Essa é a corrente universal que nunca
deveria se romper, e que nos une (ou deveria nos unir) inclusive para além das
religiões.
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