sexta-feira, 15 de março de 2013


Jaime Cimenti

Vaticano

Estive no Vaticano duas vezes. Na primeira vez, eu tinha onze anos e não atinei muita coisa, até porque me senti meio tonto nos subterrâneos da Basílica, onde estão os túmulos de alguns Papas. Com a ajuda de um guia do Touring Club, meu pai me ensinou sobre a colunata de Bernini e outros detalhes arquitetônicos e me levou ao Museu do Vaticano. Vinte anos depois, voltei ao Vaticano. Aos trinta e um, depois de visitar a Praça, a Basílica e o museu, me sentei para descansar, pensar sobre o local e observar o que meus olhos fascinados contemplavam.

A Basílica, as colunas, os monumentos, as estátuas, as esculturas e tudo mais me passaram, acima de tudo, uma sensação de eternidade. Fiquei pensando sobre uma instituição única, de dois mil anos, presente em quase todo o mundo, com milhões de fiéis.

Pensei na minha infância e juventude em Bento Gonçalves, onde fui batizado e crismado. As missas eram longas, em latim, os sermões idem e a mão de minha mãe teimava em apertar a minha quando tentava sair antes da hora.

A mão de um menino irrequieto que não gostava muito de cerimônias, pompas, solenidades e formalidades. Bom, tinha o aroma do incenso e os sons buliçosos das campainhas dos coroinhas, que, elegantes, vestiam vermelho e branco e, depois da missa das dez, tinha o passeio no centro, a compra do Correio do Povo e uns olhares para as gringuinhas lindas da cidade.

Quando elas olhavam de volta ou sorriam, aí a presença de Deus ficava ainda mais nítida e luminosa na Capital Brasileira do Vinho. Depois de trocarem ideias sobre os rumos da Igreja, os cardeais elegeram um novo Papa, em segredo. Nessas poucas linhas não dá para escrever e falar muito sobre dois mil anos de Igreja Católica, mas fico pensando que a Igreja é comparável ao mar, com sua infinitude, seus movimentos e ondas eternos, seus momentos de calma e de tempestade, suas tradições e renovações, seus pastores e fiéis e seus mistérios. Tomara que o Papa Francisco consiga modernizar e reformar a Igreja, tomara que a simplicidade, a caridade e o verdadeiro espírito cristão prevaleçam.

Tomara que Jesus Cristo, São Francisco de Assis, Madre Teresa, Irmã Dulce e outros gigantes sigam iluminando, feito faróis, os caminhos da barca, que segue navegando no infinito, com a realidade, a fantasia, a fé, os temores, a esperança e a desesperança e a vida e a morte de nós, humanos, pequenas estrelas de um céu sem limites. (Jaime Cimenti)

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