12 de março de 2013 | N°
17369
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Três livros
1. Sepé Tiaraju e a Guerra
Guaranítica (Editora Callis, São Paulo): Luís Rubira, professor de Filosofia da
UFPel, excelente leitor de história e de literatura, apresentou ano passado
esta biografia de temperamento histórico, bem documentada e escrita com traços
de invenção narrativa, com o bom acréscimo de ilustrações de Sandro Andrade. O
livro faz parte de uma coleção chamada “A luta de cada um”, que aborda outros
grandes heróis da vida brasileira. Sepé foi objeto de inúmeros relatos, alguns
testemunhais, outros ficcionais, todos convergindo em
sua importância superior. Basílio da Gama, no
magnífico O Uraguai, poema épico de 1769, nos dá dele um retrato dramático de
grande valor. Luís Rubira entra nessa longa linhagem de escritores com todos os
méritos.
2. A Fronteira onde Borges
encontra o Brasil (Editora Movimento, cá de Porto Alegre): Carmen Maria
Serralta publicou, em 2011, este simpático livro, resultante de conferência que
a autora proferiu em Santana do Livramento, a cidade fronteiriça em que andou o
grande escritor Jorge Luis Borges, em sua juventude.
Ali assistiu ao assassinato de um
homem num bar; ali viu os gaúchos de aspecto primitivo, tão importantes para
aquele portenho refinado e cosmopolita. Carmen Serralta nos conduz por caminhos
internos da obra de Borges, com grande conhecimento de causa, mostrando os ecos
de sua estada na fronteira brasileira. Agradável de ler, inteligente, um guia
de grande qualidade para o tema.
3. No Último Minuto – A História
de Escurinho: Futebol, Violão e Fantasia (Editora Signi, Porto Alegre): o
jornalista Jones Lopes da Silva publicou, em 2011, esta ótima biografia, que
revive a figuraça que foi o Escurinho, craque colorado. O texto é de grande
qualidade, talvez com algum preciosismo aqui e ali; a pesquisa é nada menos que
exemplar; o resultado é uma leitura forte, que repassa a vida do biografado
mas, para além dele, a vida das classes populares de Porto Alegre no século 20.
Não tem exagero não: Jones
reconstituiu a trajetória da família do jogador, numa vida que se enlaça com a
de outros dois heróis populares da cidade, ambos da Ilhota onde Escurinho viveu
parte da vida – estamos falando de Tesourinha e Lupicínio Rodrigues.
Não será acaso que Escurinho era
bom de bola e de samba, embora não tenha nunca deslanchado carreira musical,
apesar de haver tentado, desde muito cedo. Negro de origem pobre com
consciência das questões de sua geração, classe e etnia, Escurinho merece a
permanência na memória de colorados e gremistas, por motivos opostos.
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