13 de março de 2013 | N°
17370
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio
Araujo
Nosso homem no Vaticano
É singular a condição de dom
Odilo Scherer, que, ao lado do italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão, é um
dos dois cardeais a ingressarem como favoritos no atual conclave. Por um lado,
é visto como parte da Igreja brasileira, tachada de esquerdista desde o final
dos anos 1970. Por outro, é um legítimo homem da era João Paulo II-Bento XVI,
marcada pelo viés conservador.
Uma parte da Cúria (leia-se o
cardeal camerlengo Tarcisio Bertone, atual secretário de Estado do Vaticano)
estaria patrocinando a candidatura brasileira na velha tradição peninsular de
“mudar para deixar tudo como está”. E o próprio dom Odilo não contribui para
desfazer essa impressão ao assumir a defesa da gestão do Banco do Vaticano, alvo
de denúncias de irregularidades, conforme relatado ontem por mais de um jornal
italiano. Ao assumir um ônus político desse quilate, considerado pesado demais
até por alguns cardeais italianos, o gaúcho de Cerro Largo mostra que está
disposto a jogar pesado na disputa da Capela Sistina.
Testemunhos insuspeitos como o de
dom Paulo Evaristo Arns, antecessor de dom Odilo na Arquidiocese de São Paulo,
sugerem que o brasileiro a chegar mais perto da eleição para papa teria sido
dom Aloisio Lorscheider no conclave de agosto de 1978.
O próprio João Paulo I teria
votado em Lorscheider. Uma cardiopatia teria afastado o arcebispo de Fortaleza
do trono papal. A diferença entre dom Aloisio e dom Odilo é que o primeiro
entrou nos conclaves de 1978 como um defensor dos direitos humanos atingidos
pela ditadura militar no Brasil. Já o segundo estreia em 2013 como defensor dos
executivos de um banco considerado suspeito até mesmo pelas autoridades
europeias.
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