18
de março de 2013 | N° 17375
L. F.
VERISSIMO
Papa inesperado
Eu
sei que ninguém mais diz coisas como “pelas barbas do profeta!”, mas acho que
deveríamos ter uma expressão parecida pronta para os casos de grandes surpresas
(minha sugestão: “Pelas coxas da Beyoncé!”) como a eleição de um papa
inesperado.
Guardadas
as óbvias diferenças, a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio equivale a
um daqueles prêmios Nobel de Literatura dado a um autor que só 17 pessoas no
mundo conhecem, e 10 estão mentindo.
Na
Venezuela corre a versão de que a escolha de Bergoglio foi resultado de um
pedido feito pessoalmente a Deus pelo Hugo Chávez. Pode ser verdade, mas o que
não contam é que a primeira reação do Senhor ao ouvir o nome do argentino foi “Quién?”
As
piadas proliferam. Já ouvi que, junto com a euforia, nota-se um certo desapontamento
na Argentina pelo fato de o novo papa ter preferido se chamar Francisco e não
Diego Armando. A eleição do Jorge Mario, junto com os gols do Messi, espalham
um certo temor pelo mundo: o de que a certeza argentina da sua superioridade
sobre todos nós pode não ser megalomania!
É um
pouco injusto evocar agora o suposto apoio ao regime, ou a suposta omissão, do
novo papa durante a ditadura militar no seu país. A igreja argentina sempre
teve um poder junto à classe conservadora e ao pensamento dos seus líderes
muito maior do que a igreja brasileira junto a nossa elite, por exemplo.
O
que de certa forma a exime, se não a redime. É compreensível que ela tenha sido
cautelosa na preservação do seu poder em meio à selvageria, e que hoje se
confunda isto com colaboração. Mas também é verdade que um regime repressor tão
extraordinariamente brutal como foi o argentino deveria ter excluído qualquer
prurido ou desculpa.
Mas,
enfim, os generais da repressão estão sendo responsabilizados e os torturadores
estão indo para a cadeia (na Argentina, pelo menos) e o papa Francisco tem
acesso direto ao ouvido de Deus, se sentir a necessidade de contrição. E se
conseguir que o Hugo Chávez se cale.
Crônica
vovô
Nossa
neta Lucinda tem quatro anos e meio e sabe tudo. Há dias, ela me mostrava a
maneira correta de comer uvas. Meu argumento, de que já comia uvas 70 anos
antes de ela nascer, não convenceu. Eu comia errado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário