sábado, 16 de março de 2013



16 de março de 2013 | N° 17373
PAULO SANT’ANA

Papa acusado

Levanta-se agora contra o papa recém-eleito a acusação de que ele colaborou com a ditadura argentina.

Há até um livro editado na Argentina que acusa o papa Francisco, ao tempo que era cardeal, de ter entregue aos esbirros da ditadura dois padres jesuítas que foram torturados.

Não é nova a acusação. Por ocasião da II Guerra Mundial, até o papa de então, ao que me parece Pio XII, foi acusado de colaborar com o nazismo e ter sido com ele leniente.

E, com outras ditaduras pelo mundo, a Igreja foi também acusada de colaboracionismo.

O porta-voz do papa eleito declarou ontem que não é verdadeira a acusação que se faz ao pontífice que está por assumir. Repudiou esse grave libelo.

E o papa Francisco, ele próprio se defende, alegando que, como cardeal, “fez o que pôde” no posto para quem sabe defender seus subalternos dos atos da ditadura argentina.

Mas eu pergunto: durante a ditadura argentina, o papa de então se voltou contra ela, pelo menos em pronunciamentos?

Que eu saiba, não. Por sinal, a Igreja tem sido visivelmente omissa em condenar os regimes totalitários. O Vaticano está cercado territorialmente pela Itália, um país solidamente democrático há 68 anos.

Por isso e por ser um Estado independente, tinha de ter a coragem de condenar com veemência a violação dos direitos humanos em qualquer país do mundo, até mesmo nos democráticos, ainda mais nos ditatoriais.

Mas, historicamente, o Vaticano se omite de forma lamentável neste aspecto.

Ora, parece-me essencial que, acima de todos os governos, compete ao Vaticano se levantar contra os ataques aos direitos humanos em qualquer parte do mundo, muito mais talvez quando eles se verificam em países de cultura católica, como aconteceu na Argentina.

O papa eleito declarou que “fez o que pôde” quando era cardeal para se opor à ditadura.

Sinto dizer que tinha de fazer mais do que podia. Tinha o dever talvez até de sair às ruas e incitar seu povo a uma reação pelo menos em reuniões e manifestações populares de repúdio ao totalitarismo.

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