segunda-feira, 18 de março de 2013



18 de março de 2013 | N° 17375
KLEDIR RAMIL

Ubuntu

Recebi pelo Facebook uma foto linda com um texto que conta uma história de solidariedade entre crianças de uma tribo africana e, ao final, ensina que a palavra Ubuntu quer dizer “eu sou porque nós somos”.

Aquilo mexeu comigo, emocionalmente, e resolvi fazer o que nunca faço: compartilhei na rede. Assim como eu, muitos de meus amigos virtuais ficaram sensibilizados e começaram a comentar, curtir e compartilhar o post.

Em um determinado momento, meu amigo Zeca Petry publicou um comentário informando que aquela história era uma farsa, esclarecendo que muitas publicações desse tipo são usadas para a promoção de sites e páginas com interesses escusos. O assunto virou polêmica. A questão é que não há na internet garantia de veracidade. Posso estar sendo enrolado e até mesmo, com minha ingenuidade, estar contribuindo para promover uma atividade criminosa.

Essa foto dos meninos africanos não me parece um caso para o FBI. De qualquer forma, o debate online esquentou, com opiniões variadas. O que mais me deixou interessado nessa mobilização toda foi um detalhe, um assunto que me fascina: a natureza do processo criativo e a zona nebulosa que existe entre ficção e realidade. Qual a importância de uma história ser ou não verdadeira? Que fique bem claro, estou falando aqui de criação artística. Canções, romances, filmes...

Por isso, fiz um comentário citando John Lennon, que canta em Julia “metade do que eu digo não faz sentido”. Que, aliás, é um texto que ele pegou de um poema de Kalil Gibran. Eu também poderia ter citado “o poeta é um fingidor” de Fernando Pessoa, mas iria acabar repetindo o que Kleiton e eu já fizemos no DVD Autorretrato.

A internet é um prato cheio para mentiras. Como a vida real. Temos que entrar de cabeça, com um pé atrás. A prudência é a primeira das virtudes. Ao mesmo tempo, não dá pra viver na paranoia de que tudo é uma ameaça.

Eu sou fã de ilusionismo. Outro dia escrevi que “mágica é a trapaça elevada a categoria de arte”. Meu coração se alegra com ilusões e fantasias. Desde que não seja um crime, um pecado, um deboche.

Enfim, com tudo isso aprendi mais um pouco e já decidi: vou continuar postando apenas as coisas que escrevo. Essas, sim, tenho certeza que são verdadeiras. Ou não. Como dizia Tim Maia, “meu único vício é a mentira”.

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