ROBERTO
RODRIGUES
Meu porto, minha
vida
A
medida provisória dos portos tem boa chance de obter avanços. Espera-se que
logo as filas de caminhões sejam coisa do passado
Chega
a ser espantosa a reação geral quanto ao recorrente fenômeno do
congestionamento de caminhões no porto de Santos. Afinal, todo ano isso
acontece, e não só em Santos, mas também em Paranaguá.
Há
anos, os mais diversos especialistas comentam que o principal gargalo do
agronegócio brasileiro é infraestrutura e logística. E vêm pedindo rapidez na
implementação das obras do PAC ligadas ao tema.
E
neste ano, com uma safra recorde de grãos (especialmente da soja, uma vez que
colheremos 85 milhões de toneladas, superando pela primeira vez a safra
americana), era superevidente que teríamos esse triste espetáculo das filas
quilométricas para descarregar nos portos.
Além
disso, ao largo do porto, dezenas de navios ancorados esperam para carregar os
grãos oriundos das competitivas zonas produtoras, ou para descarregar os
fertilizantes que os mesmos caminhões levarão de volta àquelas regiões, para
que seus agricultores já se preparem para a safra do ano que vem.
Com
isso, os produtores perdem duas vezes: como os caminhões demoram para
descarregar a soja -ou o milho-, acabam servindo de armazém. Mas um armazém
caríssimo, evidentemente, sem falar na irritação que toma os motoristas que
perdem tempo, dinheiro e ficam mais dias longe de casa.
Mas
também perdem pela demora do descarregamento de fertilizantes dos navios, pois
cada dia parado ao largo tem um custo, chamado "demurrage", que vai a
dezenas de milhares de reais por dia. Ora, quem paga isso? O produtor, é
lógico, uma vez que esse custo adicional lhe é repassado no preço do
fertilizante.
É
claríssima, então, a perda dos agricultores em geral, representada pelos custos
inflados e em função de um problema sobre o qual eles não têm nenhuma
responsabilidade. Os mais prejudicados são os produtores de regiões distantes,
uma vez que as cargas vêm por caminhão, muito mais caro do que trem, que também
não há suficientemente.
Pelo
menos parte do custo também é repassada aos consumidores, de modo que todo
mundo perde.
Mas
há algo ainda mais grave. No ano passado, o agronegócio brasileiro teve um
saldo de US$ 79 bilhões em sua balança comercial externa: essa é a diferença
positiva entre o que o setor exportou e importou. E o saldo comercial total do
Brasil foi de US$ 19 bilhões, incluído o agronegócio. Ou seja, o desempenho do
agro salvou o saldo do país e, de quebra, garantiu as reservas cambiais.
Portanto,
quanto mais o agronegócio exportar, melhor será para o país. Não apenas para o
agricultor, mas para todos os brasileiros, que se beneficiam do fato.
Outro
dado: há dez anos, em 2002, o agronegócio exportou US$ 24,8 bilhões. No ano
passado, US$ 95,8 bilhões, quase quatro vezes mais. Ora, de novo todo o país e
seus cidadãos ganham com esse crescimento, que cria riquezas, renda e empregos
diretos e indiretos.
E,
se deixarmos de exportar, sofrem todos os brasileiros.
As
dificuldades de logística já fizeram a China cancelar dez navios de soja
encomendadas ao Brasil, ameaçando fazer o mesmo com outros tantos ou mais. E se
a moda pega?
Bem,
depois de anos de incisivas reclamações de técnicos e exportadores, o governo
finalmente tomou decisões importantes quanto às concessões na área de rodovias
e ferrovias, abrindo ao setor privado uma oportunidade de investir com lucro.
Isso vai acontecer, mas demora, não só pelo fato em si (projeto e execução),
mas também pela burocracia, especialmente das licenças ambientais.
E,
por último, o governo e o Congresso estão trabalhando vigorosamente em uma
medida provisória que busca equacionar o problema dos portos, com boa chance de
obter avanços notáveis. Aliás, nos últimos dias as filas até melhoraram com
essa perspectiva.
Esperamos
que, em três ou quatro anos, as filas intermináveis sejam coisa do passado. E
todos os brasileiros possam se beneficiar do aumento das exportações e, com
orgulho, dizer: "Meu porto, minha vida"...
ROBERTO
RODRIGUES, 70, engenheiro agrônomo, é coordenador do Centro de Agronegócio da
Fundação Getulio Vargas.
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