CARLOS
HEITOR CONY
O papa e as papaias
RIO
DE JANEIRO - Na primeira visita de João Paulo 2º ao Brasil, em julho de 1980, o
cardeal Eugenio
Sales
indicou meu nome para integrar a comitiva papal. Pude, assim, acompanhar o pontífice
desde Roma até as diversas capitais que visitou, inclusive Manaus, que foi a última.
Já estávamos instalados no avião que levaria o papa de volta a Roma quando,
estranhamente, houve atraso no voo.
Ficamos
sabendo que dom Hélder Câmara, arcebispo de Recife/Olinda, tinha uma encomenda
para Sua Santidade, e que seu avião estava atrasado. Esperou-se o famoso homem
de Deus, que afinal chegou e subiu a bordo para se despedir e presentear o papa.
Durante
sua estada na capital pernambucana, o papa hospedou-se no Palácio Episcopal,
quando provou pela primeira vez a preciosa papaia nacional. Gostou muito, quis
mais, foi servido abundantemente pelo seu amigo e hospedeiro. Daí que dom Hélder
decidiu presenteá-lo com um caixote de papaias maduras.
O
papa pediu ao monsenhor Romeo Pancirolli, mais tarde bispo, um de seus secretários,
que o caixote não fosse para a despensa do Palácio Apostólico, onde morava, mas
fosse diretamente para seus aposentos particulares. Dom Hélder vibrou.
Chegando
a Roma, no dia seguinte fui apanhar umas fotos da viagem com Arturo Mari, fotógrafo
oficial e pessoal de João Paulo 2°, cujo estúdio ficava ao lado da Redação do "L'Osservatore
Romano", bem em frente a uma das janelas laterais do quarto de Sua
Santidade. Era manhã e Arturo pediu cuidado ao pisar na calçada embaixo da
janela.
Algumas pessoas já tinham derrapado nas papaias esborrachadas. A
Comlurb do Vaticano ainda não havia passado. Alguém, daquela janela pontifical,
havia se livrado do valioso e saboroso presente que o papa recebera do Brasil.
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