sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Jaime Cimenti

Humboldt, Bonpland, vida pública e anonimato

Com a publicação de Figura na sombra, romance mais recente de Luiz Antonio Assis Brasil e tido pelo autor como o seu melhor livro, fecha-se a série de quatro obras intitulada Visitantes no Sul.

O pintor de retratos (2001), A margem imóvel do rio (2003) e Música perdida (2006) são os outros três romances. Em Figura na sombra, o grande tema é o amor que, entrelaçado às vicissitudes e pautando a longa vida de Aimé Bonpland, comparece em variadas formas: amor à natureza, à razão, às ideias, às leis da ciência, à beleza, e também o amor erótico, platônico e fraterno.

Ao fim, o amor da aceitação, que se revela na entrega ao fluxo da vida, cujas leis e regularidades nunca estão por inteiro na mão dos homens. Em setenta e três capítulos, o romance ficcionaliza a história real de dois importantes homens da ciência do século XIX: Aimé Bonpland e Alexander von Humboldt. Quando Bonpland, francês, médico, botânico e testemunha da Revolução Francesa, encontra Humboldt em Paris, não tem a menor ideia do que o destino ia lhe reservar.

Os dois viajam cinco anos para as Américas, e a jornada será decisiva para o moderno conhecimento do mundo. Humboldt volta para a Europa para escrever sua obra máxima e conquista a glória e a notoriedade. Bonpland, Don Bonpland, o Gringo Loco, o Caraí Arandu, prefere a vida sem luxo, junto à natureza, no Sul da América do Sul, e entrega-se ao retiro e à paz do Pampa.

Um trecho da narrativa: “Minha viagem com Humboldt foi errática, comandada pelas pestes, pela política, pela paixão, pela geografia, pela boa ou má disposição dos capitães de navios.

O gênio de Humboldt deu sentido a uma aventura dirigida pelo acaso. A viagem, para ele, foi um meio para comprovar sua teoria. Ele buscou a totalidade em meio à confusão dos seres. Ele morrerá com a certeza de havê-la encontrado. Quanto a mim, encontrei a solidão, a malária e o amor. Depois disso, encontrei o pesar, o remorso e, por fim, a remissão e a sabedoria.

E quanto mais vivo, mais constato que tudo é diverso, tudo é frágil, tudo é múltiplo e surpreendente.” Assis Brasil, um dos mais consagrados escritores brasileiros das últimas décadas, como se vê, com o brilho habitual, desvendou - com riqueza de palavras e detalhes -, o imaginário de Aimé Bonpland que, mesmo depois de muitas aventuras e de ter recebido as mais altas honrarias científicas, preferiu viver no Sul profundo. No dizer do poeta Atahualpa Yupanki, aliás, la pampa es el cielo al reves. L&PM Editores, 264 páginas.

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