Jaime
Cimenti
Humboldt, Bonpland, vida pública e
anonimato
Com
a publicação de Figura na sombra, romance mais recente de Luiz Antonio Assis
Brasil e tido pelo autor como o seu melhor livro, fecha-se a série de quatro
obras intitulada Visitantes no Sul.
O
pintor de retratos (2001), A margem imóvel do rio (2003) e Música perdida
(2006) são os outros três romances. Em Figura na sombra, o grande tema é o amor
que, entrelaçado às vicissitudes e pautando a longa vida de Aimé Bonpland,
comparece em variadas formas: amor à natureza, à razão, às ideias, às leis da
ciência, à beleza, e também o amor erótico, platônico e fraterno.
Ao
fim, o amor da aceitação, que se revela na entrega ao fluxo da vida, cujas leis
e regularidades nunca estão por inteiro na mão dos homens. Em setenta e três
capítulos, o romance ficcionaliza a história real de dois importantes homens da
ciência do século XIX: Aimé Bonpland e Alexander von Humboldt. Quando Bonpland,
francês, médico, botânico e testemunha da Revolução Francesa, encontra Humboldt
em Paris, não tem a menor ideia do que o destino ia lhe reservar.
Os
dois viajam cinco anos para as Américas, e a jornada será decisiva para o
moderno conhecimento do mundo. Humboldt volta para a Europa para escrever sua
obra máxima e conquista a glória e a notoriedade. Bonpland, Don Bonpland, o
Gringo Loco, o Caraí Arandu, prefere a vida sem luxo, junto à natureza, no Sul
da América do Sul, e entrega-se ao retiro e à paz do Pampa.
Um
trecho da narrativa: “Minha viagem com Humboldt foi errática, comandada pelas
pestes, pela política, pela paixão, pela geografia, pela boa ou má disposição
dos capitães de navios.
O
gênio de Humboldt deu sentido a uma aventura dirigida pelo acaso. A viagem,
para ele, foi um meio para comprovar sua teoria. Ele buscou a totalidade em
meio à confusão dos seres. Ele morrerá com a certeza de havê-la encontrado.
Quanto a mim, encontrei a solidão, a malária e o amor. Depois disso, encontrei
o pesar, o remorso e, por fim, a remissão e a sabedoria.
E
quanto mais vivo, mais constato que tudo é diverso, tudo é frágil, tudo é
múltiplo e surpreendente.” Assis Brasil, um dos mais consagrados escritores
brasileiros das últimas décadas, como se vê, com o brilho habitual, desvendou -
com riqueza de palavras e detalhes -, o imaginário de Aimé Bonpland que, mesmo
depois de muitas aventuras e de ter recebido as mais altas honrarias
científicas, preferiu viver no Sul profundo. No dizer do poeta Atahualpa
Yupanki, aliás, la pampa es el cielo al reves. L&PM Editores, 264 páginas.
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