sexta-feira, 5 de outubro de 2012



05 de outubro de 2012 | N° 17213
UM ANO DEPOIS

Onde o mundo inovou sem Jobs

Gigantes da era digital também lançam produtos que conquistam usuários

Como uma gigantesca espaçonave de vidro, capaz de abrigar 12 mil pessoas, cercada pela natureza em Cupertino, na Califórnia, o novo prédio da Apple, em construção, foi o tema de Steve Jobs em julho de 2011, sua última aparição antes de morrer. Três meses depois, em 5 de outubro, em casa, o gênio criativo da Apple morreria deixando fãs inconsoláveis e a dúvida: por quanto tempo a maçã se manteria como imagem símbolo de inovação tecnológica?

A té agora, acionistas e consumidores parecem não ter do que reclamar. As ações, vendidas a US$ 374 há um ano, ontem fecharam a US$ 666,80. No último 19 de setembro, chegaram a superar o valor de US$ 700 com a notícia de que o iPhone 5, mais recente celular apresentado pela companhia, havia vendido 2 milhões de unidades em apenas 24 horas do período de encomendas.

Para quem não ficou impressionado com o centímetro a mais de altura do aparelho, principal novidade em relação ao modelo anterior, a notícia surpreende. O sucesso parece seguir acompanhando a Apple, alheio à mudança no nome de quem está no comando.

– Parece que as pessoas têm uma miopia voluntária em relação a isso: a Apple é uma empresa grande, com uma enorme pesquisa de hábitos dos consumidores. Só assim se acerta tantas vezes. Acreditar que isso tudo seja talento de um indivíduo só é ingenuidade. A inovação é um processo – afirma Luli Radfahrer, professor de comunicação digital da ECA-USP, para quem o desafio de Tim Cook, atual presidente, não é se manter à frente, mas administrar a grande base de usuários que conquistou desde o lançamento do iPhone, em 2007.

Competidores agem e buscam se aproximar

O adesivo da maçã, que antes era para poucos compradores apaixonados pela marca, não é mais exclusividade de seletos donos de computadores caríssimos. Aprender a agradar uma variedade maior de pessoas pode ser decisivo.

O raro pedido de desculpas divulgado na semana passada, depois que a atualização do sistema operacional destruiu o programa de mapas usado por donos de celulares e tablets da marca, pode ser um sinal de que a lição está sendo entendida.

Outras gigantes não dão trégua: a Amazon lança, ano após ano, equipamentos de leitura que se aproximam do iPad, cada vez melhores e com a vantagem do rico acervo de conteúdo, especialidade da loja virtual.

A Samsung tira o máximo de proveito das tecnologias existentes em seus smartphones, com o Galaxy S3 considerado por muitos melhor que o iPhone 5. A Nokia alia-se à Microsoft para entregar um aparelho avançado, com o novo sistema operacional móvel da tradicional empresa de software.

Até o Facebook vive sob a especulação de que lançaria um celular próprio. Enquanto isso, o Google desenvolve um óculos que pretende revolucionar a relação do consumidor com a internet, projetando na lente uma camada de informações que o ajudariam a navegar no mundo.

– Está havendo uma guerra na indústria de dispositivos que envolve contexto, convergência e conteúdo. Os smartphones estão ficando cada vez mais parecidos entre si. O que vai diferenciar não é o hardware, mas a usabilidade, a interface, os aplicativos. O que você quer, na verdade, não é o equipamento, mas a informação – aponta Sergio Cavalcante, superintendente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar).

Para Cavalcante, o grande legado de Jobs é uma cultura dentro da Apple que não parece ter enfraquecido: o foco na experiência do usuário, em criar produtos que sejam fáceis e atendam aos desejos do consumidor. Sejam eles inovadores ou não.

barbara.nickel@zerohora.com.br

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