07
de outubro de 2012 | N° 17215QUASE PERFEITO |
Fabrício
Carpinejar
Desculpas maiores do que os
acontecimentos
“Tenho 20 anos e tive um namoro complicado com meu
professor da universidade com dobro da minha idade. Ele se mostrou uma pessoa
indecisa e contraditória. Isso mexe comigo, pois sempre que estou me libertando
ele volta. Sinto que ele é muito ligado ao passado. Será a crise dos 40? Trauma
do casamento? Beijo Adriane.”
Querida
Adriane,
Assim
não tem graça. Não deixa ele se explicar. Já procura absolvê-lo por trauma de casamento
ou crise dos 40 anos. Por que não questionou diretamente seu parceiro? Por que
é difícil conversar diretamente sobre aquilo que incomoda? Toda mentira se
finge de mãe para nos salvar.
É
como adulto diante de criança pequena. A criança aponta e o adulto logo traduz
o que a criança quer. A criança nunca fala porque basta apontar e seus desejos
serão sempre atendidos.
É a
atrofia do amor. Apenas um dos dois pergunta e responde, o outro se cala e
aproveita.
Você
vive perdoando seu namorado por antecipação. Nem permite que ele se defenda com
medo da resposta. Sabe qual a resposta que não quer ouvir, né?
A
postura dele é confortável. Pode fazer qualquer loucura que aceita. Pode ser
contraditório, faltar a compromissos importantes, cabular seu aniversário, que
você tratará de costurar coerências e motivações em seu lugar.
Quando
as desculpas são maiores do que os acontecimentos, já não há relação.
O
que ele parece sentir por você é uma atração física. Um assalto sexual.
Ele
não a enxerga como família, como futura esposa. Como ele não sabe onde
colocá-la, ele abandona e volta, abusa dos artifícios da inconstância para
mantê-la disponível e esperançosa.
Minha
convicção é que ele tem preconceito contra sua companhia: pela condição de
professor, por ser mais velho e por querer apenas sexo.
Terrorismo
psicológico é contraceptivo
“Tenho 33 anos, sou casada há cinco e meu marido não
quer ter outro filho. Ocorre que ele tem um filho do outro casamento, mas eu
não tenho filhos. Não sei o que fazer para sensibilizá-lo. De um modo um tanto
quanto apelativo, ele declarou que não me vê ‘mãe’. Estou angustiada.
Relacionamentos se fortalecem com sonhos que são sonhados juntos. É válido
permanecer com uma pessoa que não quer o mesmo que eu? Fernanda”
Querida
Fernanda,
Não
é o caso de vida ou morte. Relaxa. Você deve estar pressionada pelo relógio
biológico e entrou na fase de terrorismo sobre o marido. Deve estar falando do
assunto a cada 15 minutos ou comentando com as amigas ostensivamente ou
superestimando o problema a ponto dele virar um dilema.
Não
conheço nenhum homem que diga diretamente: – Quero ter mais filhos.
São
exemplos raros. Então, seu homem faz parte da estatística. Ele é prevenido,
ressabiado, não pretende começar de novo o processo de esvaziamento biográfico
(que o pai enfrenta, ao ceder a realeza ao sucessor).
Mude
de perspectiva. Seu marido está com pavor de ser substituído. Toda vez que
demonstra esse apelo inadiável de maternidade, empregará o deboche para se
proteger. Já acha que não deseja o amor dele, mas um filho dele. Na sua
mentalidade imediatista, entende como um aviso de fim de romance e da liberdade
de ir e vir.
Sei,
deve estranhar minha posição, mas homem é dose. Ele compete com o filho antes
do filho nascer, depois compete com a mãe para ficar com o filho. Esqueça as
lamúrias. Pode seduzi-lo, investir em indiretas e desistir da campanha aberta.
Fortaleça a paternidade dele com o filho do primeiro casamento. Importante
mostrar o quanto é prazeroso ser pai, o quanto vale apostar na educação,
provocá-lo a falar dos melhores momentos de sua vida, atiçar suas lembranças e
a sabedoria dos cuidados.
Nenhuma
demonstração direta trará resultados. Sonhos não são sonhados juntos. Sonhos
são quartos separados - por isso que existe a varanda do casamento ligando as
alas por fora.
Seu
filho virá naturalmente. E me convide para ser padrinho.
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