sábado, 6 de outubro de 2012



07 de outubro de 2012 | N° 17215QUASE PERFEITO |
Fabrício Carpinejar

Desculpas maiores do que os acontecimentos

“Tenho 20 anos e tive um namoro complicado com meu professor da universidade com dobro da minha idade. Ele se mostrou uma pessoa indecisa e contraditória. Isso mexe comigo, pois sempre que estou me libertando ele volta. Sinto que ele é muito ligado ao passado. Será a crise dos 40? Trauma do casamento? Beijo Adriane.”

Querida Adriane,

Assim não tem graça. Não deixa ele se explicar. Já procura absolvê-lo por trauma de casamento ou crise dos 40 anos. Por que não questionou diretamente seu parceiro? Por que é difícil conversar diretamente sobre aquilo que incomoda? Toda mentira se finge de mãe para nos salvar.

É como adulto diante de criança pequena. A criança aponta e o adulto logo traduz o que a criança quer. A criança nunca fala porque basta apontar e seus desejos serão sempre atendidos.

É a atrofia do amor. Apenas um dos dois pergunta e responde, o outro se cala e aproveita.

Você vive perdoando seu namorado por antecipação. Nem permite que ele se defenda com medo da resposta. Sabe qual a resposta que não quer ouvir, né?

A postura dele é confortável. Pode fazer qualquer loucura que aceita. Pode ser contraditório, faltar a compromissos importantes, cabular seu aniversário, que você tratará de costurar coerências e motivações em seu lugar.

Quando as desculpas são maiores do que os acontecimentos, já não há relação.

O que ele parece sentir por você é uma atração física. Um assalto sexual.

Ele não a enxerga como família, como futura esposa. Como ele não sabe onde colocá-la, ele abandona e volta, abusa dos artifícios da inconstância para mantê-la disponível e esperançosa.

Minha convicção é que ele tem preconceito contra sua companhia: pela condição de professor, por ser mais velho e por querer apenas sexo.

Terrorismo psicológico é contraceptivo

“Tenho 33 anos, sou casada há cinco e meu marido não quer ter outro filho. Ocorre que ele tem um filho do outro casamento, mas eu não tenho filhos. Não sei o que fazer para sensibilizá-lo. De um modo um tanto quanto apelativo, ele declarou que não me vê ‘mãe’. Estou angustiada. Relacionamentos se fortalecem com sonhos que são sonhados juntos. É válido permanecer com uma pessoa que não quer o mesmo que eu? Fernanda”

Querida Fernanda,

Não é o caso de vida ou morte. Relaxa. Você deve estar pressionada pelo relógio biológico e entrou na fase de terrorismo sobre o marido. Deve estar falando do assunto a cada 15 minutos ou comentando com as amigas ostensivamente ou superestimando o problema a ponto dele virar um dilema.

Não conheço nenhum homem que diga diretamente: – Quero ter mais filhos.

São exemplos raros. Então, seu homem faz parte da estatística. Ele é prevenido, ressabiado, não pretende começar de novo o processo de esvaziamento biográfico (que o pai enfrenta, ao ceder a realeza ao sucessor).

Mude de perspectiva. Seu marido está com pavor de ser substituído. Toda vez que demonstra esse apelo inadiável de maternidade, empregará o deboche para se proteger. Já acha que não deseja o amor dele, mas um filho dele. Na sua mentalidade imediatista, entende como um aviso de fim de romance e da liberdade de ir e vir.

Sei, deve estranhar minha posição, mas homem é dose. Ele compete com o filho antes do filho nascer, depois compete com a mãe para ficar com o filho. Esqueça as lamúrias. Pode seduzi-lo, investir em indiretas e desistir da campanha aberta. Fortaleça a paternidade dele com o filho do primeiro casamento. Importante mostrar o quanto é prazeroso ser pai, o quanto vale apostar na educação, provocá-lo a falar dos melhores momentos de sua vida, atiçar suas lembranças e a sabedoria dos cuidados.

Nenhuma demonstração direta trará resultados. Sonhos não são sonhados juntos. Sonhos são quartos separados - por isso que existe a varanda do casamento ligando as alas por fora.

Seu filho virá naturalmente. E me convide para ser padrinho.

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