07
de outubro de 2012 | N° 17215
PERFIL
Nenhuma criança sem
sorriso
Daniela
Biancardi é a primeira brasileira convidada a participar da ONG Palhaços sem
Fronteiras
É
enquanto se maquia que a atriz Daniela Biancardi vai deixando para trás sua
personalidade sisuda e incisiva para se transformar em Ligia Maria, a boba e
divertida palhaça com quem divide a vida desde a adolescência. Nem só de lápis
preto, batom vermelho e pó branco se constitui a mudança, Daniela alterna um
desenho na sobrancelha com uma careta caprichada na frente do espelho, um
reboco nos lábios, com um olhar esbugalhado para o reflexo. E se dá conta:
–
Ver o palhaço se maquiando pode ser até mais divertido que a performance.
Daniela
é a primeira mulher brasileira convidada a participar da ONG internacional
Palhaços sem Fronteiras. Na companhia dos colegas irlandeses Jonathan Gunning e
Bryan Quinn, a paulista de Jundiaí saiu em uma expedição de um mês e meio por
Lesoto, na África do Sul, um dos lugares mais pobres do mundo, com o lema
“nenhuma criança sem um sorriso”. Experiência que lhe garantiu o Prêmio Cláudia
2011 na categoria Cultura.
O
convite para integrar a organização foi o reconhecimento de Jonathan,
responsável por escalar o trio, ao trabalho que Daniela vinha realizando há um
ano em bairros de periferia de São Paulo. Os dois se conheceram na temporada
que a atriz passou estudando na Europa (ao todo, foram quatro anos entre lições
na École Internationale de Théâtre de Jacques Lecoq, em Paris, e na Kiklos
Scuola, em Firenze) e não deixaram a amizade e a cumplicidade profissional
esmorecer.
A
brasileira abraçou o desafio de encarar crianças cuja expectativa de vida é de
34 anos e quatro meses devido à devastação do HIV e eternizar momentos de troca
e alegria. O grupo era acolhido em aldeias, casas de missionários e líderes
comunitários e a disponibilidade e generosidades das pessoas foi o que mais
tocou Daniela.
–
Tem que ser um profissional capacitado para encarar um trajeto como esse. Mesmo
com toda experiência você chora. Se é alguém sem preparo, desaba.
Inspirada
em Charles Chaplin, mestre citado por ela inúmeras vezes, a atriz usou da
mímica e dos ruídos, linguagem universal, para transmitir mensagens aos
pequenos:
– Em
alguns lugares era difícil conquistar o riso com o símbolo do palhaço. Para
eles, o riso vem por outro caminho. Não necessariamente o que eu proponho para
uma criança aqui, causa efeito lá. É no desastre e no fracasso que às vezes o
riso vem. Ou seja, eu conseguia o riso de uma criança na tentativa frustrada de
fazê-la sorrir.
Estima-se
que pelo menos 10 mil gargalhadas foram agregadas na bagagem do trio, número de
pessoas que assistiram às performances.
Aos
37 anos, Daniela tem uma birra momentânea com a vida: o pouco tempo que lhe
sobra para o amor e qualquer hobby. Com uma agenda profissional lotada de
viagens, palestras, aulas e espetáculos, prioriza as horas de folga para ficar
em casa e curtir a família.
Enxerga
filhos como um projeto distante. Atualmente, foca nas aulas no primeiro curso
de humor do Brasil, na SP Escola de Teatro, e nos ensaios de uma nova peça
ainda sem título, que deve estrear em meados de abril de 2013. O tema ela
adianta: um espetáculo de palhaços com base em uma tragédia grega.
fernanda.pandolfi@gruporbs.com.br
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