06
de outubro de 2012 | N° 17214
PAULO
SANT’ANA
Fui caçado pelo
Supremo
Eram
9h da manhã de quinta-feira quando explodiu o primeiro telefonema no meu
celular: era a secretária do ministro Ayres Britto, presidente do Supremo
Tribunal Federal.
Nem
acreditei quando ela me disse que o presidente do Supremo queria falar comigo.
Mas caiu a ligação.
Dali
em diante, toda a manhã, até as 14h, foi ocupada por cerca de uma dezena de
ligações do ministro para mim, todas elas frustradas, muitas porque caíam,
outras porque o ministro telefonava para Zero Hora, onde eu não me encontrava.
Quando
começou a sessão do Supremo, em que José Dirceu foi condenado por três
ministros e absolvido pelo ministro Ricardo Lewandowski, conforme previsão que
esta coluna fizera, claro que o ministro, presidindo a sessão, deixou de tentar
me telefonar.
Mal
terminada a sessão do Supremo, bateu pela duodécima vez a campainha do meu
telefone, mas caiu de novo a ligação. No entanto, logo em seguida a secretária
do ministro Ayres Britto me ligou e passou finalmente o ministro.
Com
voz pausada e calma, Ayres Britto me disse que insistia tanto em falar comigo
porque lera a minha coluna de quarta-feira passada e ficara muito gratificado com
a referência que fiz à pessoa dele.
Lembram-se
os leitores: elogiei o precioso raciocínio do ministro ao declarar que “não
pode existir caixa 2 com o dinheiro público”, refutando assim o insistente
argumento dos advogados dos réus, que tentavam desqualificar o crime de
corrupção passiva em que incorreram seus defendidos.
Agradeci
ao ministro o seu telefonema, quando ele me disse que as três próximas sessões
do julgamento do mensalão já foram marcadas por ele: serão na terça, na quarta
e na quinta-feira da próxima semana.
Ainda
tive tempo de parabenizar Ayres Britto por estar conduzindo magistralmente o
mais célebre julgamento da história da vida brasileira.
Fiquei
emocionado com o telefonema, mais ainda pelo fato de que o ministro presidente
do Supremo lê esta coluna todos os dias. Mas, afinal, quem, importante no Rio
Grande e no Brasil, não lê esta coluna?
Cheguei
a ficar nervoso com o fato de que o ministro Ayres Britto tentou telefonar para
mim durante toda a manhã, as ligações caindo e outros óbices, e não conseguiu
durante cinco horas falar comigo. E eu ansioso. Cheguei a pensar que no Brasil
é muito difícil, quase impossível, a ligação entre dois poderes.
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