sexta-feira, 5 de outubro de 2012



05 de outubro de 2012 | N° 17213
PAULO SANT’ANA

Os desempregados

Eu queria ser um grande empresário, só para gozar de uma alegria insuperável: dar emprego para centenas ou milhares de pessoas.

Eu não conheço dádiva maior no campo das relações sociais do que o emprego.

Só o emprego concede ao homem dignidade. E não existe maior aflição individual do que a que vive um desempregado.

O desempregado só quer uma coisa: ser útil, ser produtivo, ser integrante da teia social.

O desempregado sente-se um pária. E tanto maior é a sua dor quanto mais ele se capacita de que pode ser um ótimo empregado.

Não há maior aflição humana do que a de uma pessoa que não tenha boa aparência e deixa de atender a anúncios de emprego que exigem boa aparência.

Eu imagino que nunca tenha sofrido a aflição de estar desempregado.

Trabalhei em inúmeras empresas quando era menor de idade. Depois, fui trabalhar de caixeiro da feira livre, não era o melhor emprego: eu tinha de levantar de madrugada para ir armar no grupo de feira livre a que pertencia a barraca onde ia vender os produtos oferecidos pelo meu patrão.

Eu conto até um fato que tem sido recordado por muita gente que encontro: eu morava numa peça de madeira nos fundos da casa de meu pai.

E, como não tinha despertador, às quatro da manhã em ponto o caminhão do meu patrão passava pela minha casa e o meu patrão atirava um tijolo na parede do meu quarto.

Eu despertava rápido com o barulhão, escovava os dentes às pressas e ia pegar o caminhão para me dirigir à feira livre.

Depois, fiz concurso para inspetor de polícia e passei na prova. Estudei, fui vereador, me formei em Direito e passei no concurso de delegado de polícia em primeiro lugar entre 600 bacharéis disputantes.

Foi aí que me tornei jornalista e estou nesta condição há 41 anos.

Sendo assim, nunca bati nos rochedos rudes do desemprego.

Nem por isso deixo de me comover com a dor dos desempregados, principalmente daqueles que têm família para sustentar.

E tanto mais me desespera a circunstância de quem não consegue emprego por preconceito de alguns maus empregadores: os que não empregam gordos, os que não empregam negros, não empregam os idosos, os que não empregam deficientes, já por que juntam à pretensa desvantagem desses grupos a maldade da segregação de seu arbítrio ao não admiti-los.

Um dos maiores remorsos que tenho são algumas cartas que recebi durante os últimos anos de pessoas de mais de 50 anos de idade que por essa condição não encontram emprego de jeito nenhum. Viram párias e deixam de ser cidadãos.

Uma catástrofe social. Por culpa exclusiva de pessoas insensíveis e de degenerada compreensão social.

Já lancei inúmeros apelos por esta coluna para que empreguem as pessoas de idade avançada.

Inúmeros. E continuo insistindo nisso, que não é uma benemerência, mas uma imposição social aos empregadores.

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