quinta-feira, 4 de outubro de 2012



04 de outubro de 2012 | N° 17212
PAULO SANT’ANA

Elefante no mensalão

Na sessão de ontem, o relator do processo do mensalão condenou Delúbio Soares, condenou José Genoino e condenou José Dirceu.

Isso não quer dizer que os três serão condenados. Tanto que votando logo após Joaquim Barbosa, o revisor Ricardo Lewandowski condenou de plano Delúbio, mas fez uma extensa defesa de Genoino, o que quer dizer praticamente que absolverá José Dirceu.

Uma previsão desta coluna pode ainda vir a se confirmar: vão condenar os bagrinhos, mas vão salvar os tubarões médios e a baleia Moby Dick.

Por exemplo, o ministro Dias Toffoli, aquele que teria de se julgar suspeito e não o fez, eu aposto que vai absolver José Dirceu.

Então surgem incógnitas. O fato é que de onde se esperava condenação importante, mais propriamente de Joaquim Barbosa, veio condenação importante.

E, de onde se esperava absolvição importante, pode vir absolvição importante e embolar o meio-campo do julgamento.

O que pode acontecer é que em matéria de quantidade de réus, o Supremo vai condenar – e já condenou – à abastança.

Poderá não ser o mesmo em matéria de qualidade do réus. Vamos esperar para ver.

Mais de 15 advogados dos 37 réus sustentaram uma tese básica: o dinheiro recebido pelos parlamentares para votar a favor do governo durante anos era mero caixa 2, delito pequeno e que se fosse levado em conta não significaria nenhuma punição aos que receberam dinheiro a mando de Delúbio.

No entanto, o presidente do Supremo, ministro Ayres Britto fulminou esta tese ao proclamar que “não existe caixa 2 com dinheiro público”. Foi o raciocínio mais retumbante e demolidor do derredor do julgamento.

O revisor do mensalão, Ricardo Lewandowski, contou uma conhecida fábula durante o julgamento ontem.

Um príncipe indiano mandou chamar quatro cegos para que identificassem um elefante que colocou no centro do terreno.

Os quatro cegos foram chamados para que apalpassem o elefante e dissessem que coisa era aquela.

O cego que apalpara o rabo do elefante disse que se tratava de uma vassoura.

Já o cego que apalpara a orelha do elefante disse que aquele objeto mais parecia um grande leque.

O cego que apalpou a tromba exclamou: “Esse objeto tem a flexibilidade de uma grande mangueira de água”.

Por fim, o cego que apalpou a perna do elefante riu dos outros: “Vocês estão por fora, trata-se de um poste”.

Ou seja, vai ser assim o fim do mensalão. Cada ministro vai ter a sua visão do elefante. Mas eu fico triste que se faça Justiça assim.

No entanto, num ponto todos os ministros concordam: o Marcos Valério, o publicitário que comandou a corrupção e distribuiu as propinas, este está mais atolado no processo que vaca no banhado.

Nenhum comentário: