04 de outubro de 2012 |
N° 17212
L. F. VERISSIMO
Exemplos inúteis
Osucesso do Wellington Nem no
Fluminense traz de volta um velho debate: que tamanho deve ter um jogador de
futebol? Não haveria mais lugar para jogadores pequenos num esporte que cada
vez mais se decide pela imposição física. Errado, dizem outros. É justamente
para se impor aos grandalhões que servem os baixinhos.
A discussão já deveria ter
acabado há muito tempo, com as carreiras de Maradona, Romário e Messi, para
citar só três exemplos de mirrados que brilharam nos últimos anos, quando o
futebol supostamente se transformou em coisa para gente grande. Mas as exceções
não convencem, e a discussão continua.
Um pouco como o debate sobre de
que tamanho deve ser a participação do Estado na economia. A atual crise na
Europa e as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos não são sobre
outro assunto. Estado regulador ou mercado livre?
Como no debate sobre as dimensões
ideais de um jogador de futebol, os argumentos de um lado e do outro não
parecem fazer muita diferença. Os exemplos são inúteis.
Você esperaria que os descalabros
do capital financeiro, responsável direto pela crise, diminuiriam o entusiasmo
dos defensores do mercado, já que o que faltou para enfrentar a voracidade
destruidora do capital foram intervenções do Estado quando ainda dava para evitar
o pior.
Mas não, prega-se menos e não
mais controle. O argumento é que, historicamente, em todas as suas crises o
capitalismo se autorregenerou sozinho. Errado. Não é preciso ter lido Eric
Hobsbawm para saber que em todas as suas crises o capitalismo foi salvo dele
mesmo por algum forma de intervencionismo corretivo – o que não significou que
abandonasse seus maus hábitos.
As multidões que se manifestam na
Europa em crise não são de mal-acostumados inconformados com o fim de Estados
irrealistas de bem-estar social, como dizem os mercadófilos, são de
inconformados com a injustiça da maioria estar pagando pelos desmandos de uns
poucos, que continuam desmandando.
O capital financeiro tantas fez,
que, além de perverter a atividade econômica e a função bancária, perverteu a
semântica: transformou “austeridade” em palavrão. Hoje tem gente morrendo de
austeridade na Europa.
Não que este argumento vá fazer
qualquer diferença.
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