RUY
CASTRO
Crédito de coraçõezinhos
RIO
DE JANEIRO - Presidentes da República têm esse problema. Tudo que dizem é público.
Veja a presidente Dilma. Uma inocente sugestão ao chefe de cozinha do Planalto,
de que gostaria de um suflê de chuchu desidratado para o jantar, pode vazar e
dar a entender que temos em Brasília uma flora intestinal com problemas -quando,
na verdade, a presidente quer apenas descansar das bombas que é obrigada a
ingerir todo dia em suas viagens pelas províncias.
Imagine
então suas declarações sobre economia. Dependendo de como são interpretadas,
podem levar o país para um lado ou para o outro. Foi o que aconteceu outro dia,
na reunião dos Brics, na África do Sul. Dilma disse algo sobre inflação e taxa
de crescimento do Brasil que alvoroçou indevidamente o mercado de juros. Pronto,
mais um aborrecimento -culpa, claro, da imprensa.
E
posso calcular sua decepção ao ver uma de suas melhores frases recentes -a de
que, se alguém culpasse os raios pelos apagões, devíamos dar gargalhadas- ser
desmentida pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o qual concluiu
que o apagão de dezembro, que deixou 12 Estados no escuro, foi causado por... raios.
E agora, vamos rir de quê?
Presidentes
são assim mesmo, contundentes quando não devem ou peremptórios sobre o que não
entendem. Faz parte do emprego. Donde não é justo que exijamos deles uma
infalibilidade que, hoje, já não se espera nem do papa. Pelo mesmo motivo, em
termos jornalísticos, talvez nem tudo que dizem -já que não é para valer- deveria
render manchete ou primeira página.
Em
compensação, raro o dia em que não se vê, em jornal ou TV, Dilma fazendo para
plateias o famoso gesto do coraçãozinho com as mãos. É reconfortante. Uma
governante tão pródiga em coraçõezinhos merece um crédito, não sei se de
confiança, mas de carinho.
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