27
de abril de 2013 | N° 17415OLHAR GLOBAL |
Luiz
Antônio Araujo
Cheiro de crime de
guerra
Não
é necessário esperar pela comprovação do uso de armas químicas pelo regime
sírio para se concluir que o país se tornou palco de uma das mais horrendas
guerras civis deste século. As Nações Unidas estimam que mais de 70 mil pessoas
tenham morrido em 25 meses de conflito. Não existe a menor dúvida sobre de quem
é a responsabilidade pela matança.
Tudo
começou quando pequenos grupos de ativistas de oposição, inspirados pelo que
ocorria em toda a região, resolveram sair pacificamente às praças de Damasco,
Aleppo, Homs e outras cidades para exigir democracia. O ditador Bashar al-Assad
respondeu a sua moda: prisões ilegais em massa, sequestros, toque de recolher,
bombardeios de bairros e cidades inteiras.
Com
a transformação da rebelião popular em guerra civil, abriram-se as portas para
o ingresso de homens e armas ligados a grupos fundamentalistas via Arábia
Saudita, Iraque e Catar. Os rebeldes chegaram a tomar cidades, mas, sem o
poderio militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) colocado à
disposição de seus congêneres líbios, não conseguiram encurralar o regime.
É
possível e, inclusive, provável que Al-Assad, um dos maiores detentores de
armas químicas do mundo, tenha usado parte de seu estoque de forma discreta e
limitada contra a oposição, mas não menos mortífera.
O
correspondente britânico Robert Fisk recorda-se do dia em que, viajando num
trem militar iraniano durante a guerra Irã-Iraque, percebeu que muitos soldados
apresentavam tosse persistente. Era o indício do uso de gás venenoso pelas
forças de Saddam Hussein. A guerra na Síria levou muitos dos que poderiam fazer
o papel de Fisk: somente no ano passado, 28 repórteres morreram ao cobrir o
conflito no interior do país.
É de
grande importância que sejam apuradas de forma independente as suspeitas sobre
uso de armas químicas na guerra civil síria e a extensão de danos causados à
população. Mas não é isso o determinante para a decisão dos Estados Unidos de
intervir no conflito de forma direta ou por intermédio de organismos como Otan
e Nações Unidas.
Os
EUA tergiversam porque o apoio de Irã, China e Rússia a Al-Assad segue
inabalado, à parte demonstrações esporádicas de impaciência com a duração do
conflito. Isolar o regime de Damasco de seus três principais aliados é a
preocupação número um da diplomacia americana. Esse é o sentido da nova rodada
de declarações circunspectas a respeito do perigo químico por parte do
presidente Barack Obama.
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