19
de abril de 2013 | N° 17407
ARTIGOS
- Günther Staub*
Que educação é
esta?
Neste
mês, duas situações envolvendo estudantes, uma no Ensino Superior, outra no
Ensino Fundamental, levam-nos a uma séria reflexão sobre questões que dizem
respeito à educação no país.
Quatro
estudantes universitários, no início do quarto semestre, tiveram repentinamente
suspensas cinco disciplinas de seu curso. Ao procurarem uma explicação na
secretaria, foram informados de que o curso havia sido transferido da manhã
para a noite, com o término das aulas previsto para 22h45min. De imediato, a
decisão da universidade acarretou três problemas básicos:
–
Mudança de turno: nesse horário da noite, não há mais ônibus para os bairros
onde eles moram. Uma das alunas, inclusive, para chegar a sua casa, precisa
passar por uma vila de alta periculosidade e, por isso, ficaria muito sujeita a
assaltos etc. A universidade simplesmente sugeriu que eles contratassem um
serviço de ônibus escolar. Acontece que são estudantes pobres, sem recursos
financeiros para usar o referido transporte escolar.
–
Andamento do curso: como algumas dessas disciplinas canceladas são
pré-requisito para outras, a decisão da universidade vai comprometer seriamente
os semestres seguintes.
–
Condição de bolsista: como são alunos bolsistas, eles não poderão prestar
contas ao órgão financiador, o que acarretará uma recomendação negativa em
relação àquela instituição, além da falta de acesso ao curso superior.
Outro
caso que chama a atenção é o de uma criança, estudante de uma escola pública,
que passou do primeiro para o segundo ano sem saber ler, pois tinha abandonado
a escola durante um semestre inteiro. Tanto os pais quanto a escola deixaram de
tomar qualquer providência para evitar essa interrupção. Novamente, a situação
criada trouxe problemas à criança:
–
Abalo emocional: em uma das aulas, já no segundo ano, a professora pediu que o
menino lesse, em voz alta, o que estava escrito no quadro-negro. Por não saber
ler, ele começou a chorar e a ser ridicularizado por seus coleguinhas, o que
acarretou seu desconforto definitivo, a ponto de negar-se a continuar naquela
escola.
–
Prejuízo escolar: em virtude da situação, os pais foram finalmente obrigados a
tomar uma atitude e a procurar outra escola, cujo diretor comprometeu-se a
suplementar a formação da criança. Só que, nesse processo, ela ficou quase um
mês sem aula.
Cabem
aqui algumas perguntas: como a escola permite que um aluno falte um semestre e,
mesmo assim, seja aprovado? Como os pais deixam o filho um semestre inteiro sem
frequentar a escola? Como um aluno com deficiência de conteúdo pode passar e
acompanhar as aulas, se ele não apresenta as condições fundamentais para
prosseguir nos estudos?
E
mais, ainda, é assim que se trata a educação? É assim que queremos desenvolver
o Brasil? Com a palavra os órgãos competentes.
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