segunda-feira, 22 de abril de 2013



22 de abril de 2013 | N° 17410
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

Simões Lopes

Nós, gaúchos, sempre soubemos da enorme importância de João Simões Lopes Neto. Embora a crítica acadêmica “nacional” sempre o tenha classificado, numa platitude risível, como “regionalista” – sem que esse termo nunca ficasse esclarecido – nós sempre soubemos da força literária do grande autor, força que ultrapassa fronteiras. Ademais, é tempo de descobrir o grande estilista Simões Lopes. Alguns do “Centro” se amolam com o léxico simoniano, mas fazer o quê? Ele deveria usar o vocabulário amazônico? Ou nordestino?

A propósito disso, tivemos uma bela surpresa na mídia “nacional”, que foi a resenha elogiosa a dois livros acabados de sair: Artinha de Leitura e Terra Gaúcha, ambos com edição do professor Luís Augusto Fischer, numa tiragem com vários participantes e apoiadores: Banrisul, Banrisul Consórcio, Secretaria de Estado da Cultura e Ministério da Cultura, tudo via leis de incentivo.

O projeto é da Belas Letras – Projetos Especiais. Trata-se de uma edição rigorosa, em que Fischer atualizou a ortografia, fez um estudo cultural e literário sobre as obras e escreveu inúmeros e pertinentes esclarecimentos em pé de página. Colaboram também Carlos Francisco Sica Diniz, Fausto José Leitão Domingues, Pedro de Moraes Garcez e Beatriz Ana Loner todos com esclarecedores capítulos.

Quanto a Artinha de Leitura, pode-se dizer que é um comovente esforço de Simões no sentido de colaborar com a instrução nacional, uma cartilha que vai desde a caligrafia até a fonética. Um prazer de livro que, publicado quando escrito, em 1907, teria sido utilíssimo para a pedagogia pátria.

Em Terra Gaúcha, a que foi acrescentado um subtítulo esclarecedor de “Histórias de Infância”, vemos o prosador em pleno domínio de seus recursos. São contos que guardam um previsível paralelo com toda sua obra nesse gênero; a diferença está nas dimensões e nas propostas de cada um de seus textos.

A linguagem simplifica-se, com períodos gramaticais breves e linguajar adequado; os temas perpassam pela cidade e seus subúrbios, e as preocupações são aquelas da meninice. Quer-se dizer com isso que Simões sabia quem era seu leitor. O interessante é que o autor, que já usara a primeira pessoa com Blau Nunes, usa a mesma técnica nessas histórias de infância, mas cabe notar que aqui temos uma presença massiva de um “nós”. Algo a descobrir e estudar.

Todos estão de parabéns na recuperação desses textos, que apenas vêm confirmar o que já sabíamos de Simões Lopes. Sua consagração “nacional” talvez o faça mais lido, especialmente aqui no Rio Grande.

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