DANUZA
LEÃO
O medo, o luxo, a
PEC
Nos
dias de hoje é preciso ter cuidado, há quem fique a favor de qualquer invasão,
quando ouve falar em luxo
Tem
dias que a gente acorda e fica com medo; isso me aconteceu esta semana.
Tive
medo quando vi as fotos dos índios que invadiram o hotel Fazenda da Lagoa, no
sul da Bahia. Há pouco tempo, um ou dois meses, conheci o hotel, através de um
programa de TV sobre arquitetura; o local parecia o paraíso sobre a terra.
Era
mesmo muito bonito, e dizer que era um hotel de luxo é maneira de falar; na
verdade, os bangalôs, a decoração feita apenas com o artesanato local, os
jardins, era tudo que podia haver de mais simples e mais brasileiro, e de um
enorme bom gosto, o que o tornava luxuoso, no sentido puro da palavra (nos dias
de hoje é preciso ter cuidado com esta palavra, pois há quem fique a favor de
qualquer invasão, quando ouve falar em luxo).
Saber
que uma propriedade foi invadida traz insegurança, e fico pensando no que deve
ter sido para os donos que trabalharam dez anos para fazê-lo admirado no mundo
todo. A Funai fez com que os índios saíssem do hotel, mas e se eles voltarem, qual
a solução? Botar um bando de seguranças em volta do hotel, no meio dos
coqueiros?
Por
mais que o mundo seja hostil, não há refúgio que nos pareça mais seguro do que
nossa casa, seja ela um castelo ou um casebre; é nela que nos sentimos
protegidos, e quando se imagina que esse espaço pode ser violado, vem o grande
medo.
Já
me aconteceu: há muitos anos, cheguei em meu apartamento e encontrei-o todo
revirado; tinha sido assaltado. Foi terrível ver minhas gavetas abertas, minha
cama usada, a casa toda mexida. O roubo não teve importância, diante da
violência que foi a invasão de minha casa.
E
agora vamos a meu assunto predileto, atualmente: a PEC das domésticas, e são
duas historinhas verdadeiras. Uma amiga foi contratar uma empregada, e se
surpreendeu com a proposta da candidata: por razões pessoais, ela propôs um
horário de 16h às 21h.
Minha
amiga ficou radiante: ela sai de casa para o trabalho às 10h e chega,
dependendo do trânsito, entre 18h e 19h. Assim, teria quem lhe preparasse um
jantarzinho, mas aí, pensou, seria hora extra noturna o que para ela seria
muito caro.
A
pretendente ao emprego só estava disponível nesse horário, e como não
encontrava trabalho, abriu mão da hora extra noturna, só queria um bom salário.
Se acertaram, mas aí criou-se o problema. Segundo a PEC, mesmo as duas partes
estando de acordo e assinando um contrato, não pode, pois fica fora da lei. E
agora?
Outro
caso: um casal muito muito rico, tem duas empregadas há uns 15 anos, que dormem
no emprego. Quando veio a PEC, a dona da casa -que não suporta a ideia de ter
um livro de ponto em casa, e ao mesmo tempo quer ter o direito de pedir um chá
às 10h da noite-, fez as contas com o contador, soube o quanto lhe custaria
pagar as horas extras, e chamou as duas para conversar.
Nenhuma
delas queria virar diarista, pois estavam gostavam do emprego e tinham, cada
uma, seu quarto confortável, ar condicionado e televisão; foi combinado, então
um bom aumento. Os principais direitos elas já tinham, foi então acrescentado o
FGTS, e como nenhuma das duas pretendia ter filhos, os auxílio creche e
maternidade estavam fora da questão.
O
que o empregador não aceitava era se sentir vigiada pelo Grande Irmão, de
George Orwell, a cada vez que pedisse um chá às 10h da noite. As partes se
acertaram, mas talvez estejam vivendo na ilegalidade.
Tenho
a impressão que o governo está interferindo um pouco mais do que o tolerável na
relação entre empregado e empregador no trabalho doméstico.
P.S.:
O prefeito do Rio inventou uma multa altíssima para quem jogar um só amendoim
nas ruas da cidade.
Quem
comprar um chiclete no jornaleiro vai ter que engolir o papel, pois as (poucas)
latas de lixo do Rio são do tamanho de uma sacola Chanel.
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