17
de abril de 2013 | N° 17405
PAULO
SANT’ANA
Bela recordação
Em
um dia qualquer de 1980, no interior de Torres, bateu uma enxurrada terrível
que levou casas por diante, vitimando dezenas de pessoas, que morreram afogadas.
O
menino Oli Hofman, com 10 anos de idade, foi atirado para fora de sua casa pela
violência das águas e permaneceu – inacreditável! – durante oito horas agarrado
num galho de árvore, enquanto durou a enchente, que teimava em açoitar seu
corpo de criança. Sobreviveu graças ao seu estoicismo.
Um
herói. Fiquei comovido com a história daquele menino. Afinal, a enchente matou
sua mãe e cinco dos seus seis irmãos, levados pelas correntezas.
Então,
levantei uma campanha entre os leitores de Zero Hora para conseguir recursos,
na forma de depósitos populares no Banrisul, de apoio ao garoto órfão. O Rio Grande
do Sul inteiro atendeu ao meu pedido e conseguimos uma quantia considerável.
Com
o dinheiro, adquiri o seguinte para o menino Oli: 13 hectares de terra, uma
casa em cima desse terreno, inteiramente mobiliada, uma junta de bois e uma
caderneta de poupança com razoável depósito.
O
menino foi viver com seu pai na terra que a nossa campanha adquiriu para ele. Passados
oito anos, um dia apareceu o Oli Hofman, já com 18 anos, aqui na Redação. Veio
para pedir minha autorização para poder retirar o dinheiro da poupança e
comprar uma moto.
Prontamente
autorizei. Só que ontem, 32 anos depois da tragédia, surgiu-me em carne e osso
o Oli Hofman, já com 42 anos, aqui na Redação.
Veio
acompanhado de seu pai, do único irmão sobrevivente e, pasmem, de seu filho, Geovani
Hofman, com 10 anos. Vieram fazer uma visita a mim, recordar aqueles tempos de
pesar e de esperança e mais uma vez demonstrar gratidão.
Contou-me
Oli que é agricultor na terra que eu consegui para ele. Planta bananas, arroz,
feijão e cria algumas cabeças de gado. Tira seu sustento daquela terra.
Bebericamos
café e guaraná no bar da Redação e afinal nos despedimos. Mas não nos
despedimos da vida. Ele prossegue lá em Três Pinheiros com a família que
formou, entregue ao trabalho.
E eu
permaneço por aqui, na mesma trincheira que cavei para esta luta de 42 anos de
jornalismo, cuja mais marcante obra social foi aquela campanha que organizei para
levantar o Oli e seu pai, sendo esta realização, junto com o Prêmio dos
Direitos Humanos que um dia esta coluna obteve, os dois grandes marcos deste
espaço da penúltima página de Zero Hora.
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