Retrato agônico da vida pública
brasileira
O
Brasil é a obra de ficção mais recente do italiano Mino Carta, nascido em 1933,
pintor e jornalista, há 63 anos radicado no Brasil. Mino fundou e dirigiu as
revistas Veja, IstoÉ e Carta Capital, entre outras realizações relevantes, e já
fez mais de 20 exposições individuais como pintor, numa carreira de mais de 40
anos. Em 2001, lançou a obra
O
castelo de âmbar pela Editora Record. O Brasil traz elementos reais e
ficcionais da vida de Mino, desde criança até a atualidade, entrelaçados com
momentos e personalidades importantes do jornalismo e da história do Brasil.
Com
narrativa recheada de vivências pessoais e utilizando recursos do novo
jornalismo, Mino fala do grande jornalista Cláudio Abramo e de muitas questões
do jornalismo, conta causos e retrata personagens do período da ditadura
militar - especialmente o General
Golbery do Couto e Silva -, e avança por décadas, até chegar a Lula e Dilma,
passando, claro, por Fernando Henrique.
Em
uma visita a dona Marisa e a Lula, na Granja do Torto, conta que ela estava
muito preocupada com o mensalão e que disse: “fizeram umas besteiras sem
tamanho”. Conta que Lula, na ocasisão, insistia na ideia de ter sido pego “de
calça curta” pela turma afoita do PT. Mino Carta fala da prisão de Lula, na
época de sindicalista e do contato com o legendário Raymundo Faoro, que se
propôs a ser advogado de Lula naquele momento.
Episódios
fundamentais do movimento Diretas Já, personalidades como Ulysses Guimarães,
Franco Montoro e Tancredo Neves e tempos da abertura estão nas páginas da obra
de Mino, que participava de tudo, não apenas como jornalista, mas como cidadão,
confidente, amigo e camarada de muitas figuras centrais de nossa história.
No
posfácio, o eminente professor e historiador Alfredo Bosi escreveu: “Nascido em
1936, fui contemporâneo dos sucessos narrados. Mas, lido, este Brasil, vejo
pessoas e acontecimentos à luz de outro olhar. Mais intenso, quase ofuscante,
não raro cruel. No começo da leitura pareceu-me que a ferinidade vinha de uma
visada mais aguda e ácida que a do comum dos mortais.
Mas
não, não era só isso. Era a própria realidade que se revelava na sua crueza.
Crueza cruel, com perdão do pleonasmo. Retratar o nosso homo politicus é lidar
com o nauseante: que galeria de patifes talvez superada apenas pela dos
jornalistas!
Aqui
o narrador pôs o dedo na ferida, mas, em vez de sangue fresco, o que jorrou foi
pus.” Enfim, uma narrativa corajosa e polêmica, obrigatória para pensar,
entender e discutir o Brasil e o momento em que vivemos. Editora Record, 356
páginas
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