sábado, 20 de abril de 2013



21 de abril de 2013 | N° 17409
PAULO SANT’ANA

Sentir falta

Eu, por exemplo, ando sentindo muita falta do Marquinhos Rachewsky, aquele dono da antiga Soberana dos Móveis. Sei que ele está vivo – e bem vivo –, mas não consigo me encontrar com ele. Ele é uma unanimidade, todo mundo gosta dele, nunca vi uma pessoa não gostar dele. Como ele é querido!

Meu leitor ou minha leitora, se alguém sente falta de você, você é uma pessoa realizada. Mas, se ninguém sente falta de você, você passou pela vida e não viveu.

O que é o amor? A minha definição de amor é a seguinte: é querer sempre estar junto. Se você deseja sempre estar junto de alguém, é porque você ama essa pessoa. Isto é amar: sentir falta de alguém a todo momento.

No dia em que eu morrer, data que deve andar próxima por alguns cálculos meus e sinais que tenho recebido, eu estarei consagrado se nos dias seguintes os leitores sentirem falta da minha coluna em Zero Hora. A pior sensação que uma pessoa pode ter é a de escrever em Zero Hora, deixar de escrever por um só dia – e ninguém sentir falta.

Neste caso, o suicídio é um dever.

Não há coisa pior que se possa fazer a uma pessoa, não há maior ofensa do que dizer-lhe: “Você não faz falta”. Isso provoca uma agonia no atingido!

Quando vamos a um velório ou enterro de alguém, o que estamos querendo dizer, em última análise, ao falecido? Estamos querendo dizer que ele agora fará muita falta. Fazer falta numa empresa, numa casa, num jornal, em qualquer lugar, isso é que é importante.

Já se sabe, por exemplo, que o Zé Roberto fará falta no dia 2 de maio no time do Grêmio que vai jogar contra o Santa Fe. Ele está suspenso pelo cartão amarelo e os gremistas lamentam profundamente sua falta.

Até agora, relatei a falta que as pessoas fazem. Mas eu sinto uma falta terrível de dois cachorros que tive e que morreram: o Dick, na minha infância, e a Pink, a cadelinha que me mimava e a quem eu não cansava de mimar.

Eu sinto muita falta de um par de chinelos de camurça que eu tive 30 anos atrás.

Eles se gastaram, mas eu gostava tanto daqueles chinelos, que os dependurei, esfarrapados, até hoje na parede do meu quarto. Por mais que eu procure nas lojas, nunca achei chinelos que se equiparassem àqueles.

Embora eu fume a marca Charm, sinto falta muito grande do tempo em que eu fumava a marca Minister. Sinto falta também das balas quebra-queixo, que eu chupava na minha infância. E, apesar de ferirem a unha encravada do meu dedão, sinto falta dos tamancos que eu usava quando era guri.

E, quando a minha primeira namorada na infância vinha se encontrar comigo, eu cantava para ela: “O plac-plac dos teus tamanquinhos/ machuca o meu coração”. Em verdade, quase todos nós sentimos muita falta da nossa infância.

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