26
de abril de 2013 | N° 17414
DAVID
COIMBRA
O certo,
Lamuel
Pode
parecer estranho que os seres humanos do terceiro milênio estejam a debater com
tanta paixão assuntos como o casamento gay. Não é. É natural.
O
ser humano, em geral, não reage bem a diferenças. O que seres humanos como Jair
Bolsonaro queriam, realmente, é que todos fôssemos iguais. Tudo bem, nada
contra, mas eu não gostaria de usar aquela franja do Bolsonaro.
Isso,
essa ânsia de fazer com que todos sejamos iguais, não é, como se pode pensar,
uma manifestação do sentimento de superioridade de homens como Bolsonaro. Ao
contrário: é uma manifestação gritante da sua insegurança.
Uma
pessoa quer que as outras pessoas sejam iguais a ela para afirmar o seu modo de
vida. Eis o grande drama da humanidade, eis o barro com que são fundadas
religiões e são formados líderes de massa: as pessoas anseiam com sofreguidão
por saber se o que fazem é o certo. Esse é o papel do pai, e não é por acaso
que Deus é pai e os ditadores se fazem chamar de pais da pátria – o pai tem de
proteger, sim, mas, sobretudo, TEM DE DIZER O QUE É CERTO E O QUE É ERRADO.
O
homem vara a existência pendurado nessa angústia: o que estou fazendo é o
certo? O que é o certo? Donde a popularidade de livros como a Bíblia. Você não
sabe o que fazer, abre O Livro e lá está escrito, num texto velho de 25
séculos:
“Meu
filho, filho de minhas entranhas, que te direi eu? Não dês teu vigor às
mulheres. Não é próprio dos reis, Lamuel, não convêm aos reis beber vinho, nem
aos príncipes dar-se aos licores. Para que, bebendo, eles não esqueçam a lei e
não desconheçam o direito de todos os infelizes”.
E
você, Lamuel, dando-se aos licores...
O
ser humano precisa dessa certeza. Precisa saber que está vivendo da forma
correta. Por isso, uma diferença o perturba. Homens como Bolsonaro olham para
os gays e, no mais profundo de sua alma, estremecem, suspeitando que eles, os
gays, é que podem estar certos.
Então,
ele reage com fúria, ele defende a sua forma de viver, ele grita que ele, sim,
é que está certo, e arma-se para a luta contra quem é diferente. É humano. É
compreensível. Só aquela franja é que não dá pra aceitar.
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