14
de abril de 2013 | N° 17402
QUASE
PERFEITO | FABRÍCIO CARPINEJAR
Minha mulher não é furacão
Você
não é um furacão.
Trata-se
de uma cilada masculina.
Não
aceite ser nomeada desse jeito.
Representa
um falso cumprimento.
Todo
homem diz que a mulher é um furacão como projeção: é o que ele deseja da
companhia, não é o que ela é.
Pode
soar sedutor, pode sugerir passionalidade, pode sugerir fogo e charme, porém é uma
armadilha.
Sua
intenção não é boa.
Furacão
não é convidado.
Furacão
passa rápido.
Furacão
é somente sexo.
Furacão
é pressa.
Furacão
não tem endereço, nem infância.
Furacão
destrói lares, arrebenta relacionamentos.
Furacão
não chora, não se arrepende de colecionar vítimas.
Furacão
não pergunta duas vezes.
Furacão
não volta, não cria raízes, não se despede.
Furacão
é triste, solitário, assim como vulcão.
Furacão
é vazio, repetitivo, rancoroso.
Furacão
não deixa bilhetes, não tem recaídas.
Chamar
uma mulher de furacão é uma forma machista de se expressar e impor brevidades
amorosas.
Quando
alguém lhe caracteriza de furacão, não está festejando sua vida.
Pretende
usá-la e não se responsabilizar pelas consequências, busca explorar sua
fugacidade, destacar sua intemperança, avisar que é fácil, que não pensa, que
age por impulso, que não mede a força.
Furacão
é carente, perdido, uma nuvem dançando seu sofrimento.
Furação
deserda, não conquista.
Furacão
devasta, não reúne.
Ninguém
namora um furacão. Ninguém casa com um furacão.
Furacão
é reduzir a mulher ao papel de amante, é considerá-la uma ameaça da intimidade,
um rastro desorganizado e provisório.
A mulher
que amo não é um furacão, e sim brisa, um sopro calmo que veio estudado das marés.
É a
soma das ondas, o resto de estrelas, o cheiro casado das rochas e das conchas.
Não
subestime a intensidade da insistência.
A
brisa é mais contundente do que o furacão.
A
brisa me faz virar o rosto, pressinto alguém chegando.
A
brisa tem o peso exato de uma palavra no ouvido.
É vento,
mas também é um chamado.
É vento,
mas também é saudade.
É vento,
mas também é música.
É espuma
de vento, levemente úmido, meio água, meio ar.
Mulher
minha não é furacão. Mulher minha é brisa.
E
nunca será minha porque vento não se enjaula.
Teremos
casa, filhos, pátio, varanda, e não cansaremos de contar como nos conhecemos.
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