22
de abril de 2013 | N° 17410
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Todos fomos atingidos
Estava
inclinado a escrever sobre assunto do nosso dia a dia quando me vi envolvido,
ainda que de longe, pelo brutal sucesso ocorrido em Boston. Mais de 20 mil
pessoas, provenientes de mil lugares, participavam da maratona que sucede
naquela cidade desde 1897 e 500 mil espectadores são atraídos anualmente para
acompanhá-la.
Pois
nesse local e nessa ocasião, duas bombas de alto poder destrutivo foram
detonadas, 168 metros uma da outra e com o intervalo de 10 segundos entre
ambas, lugar cheio de gente; a maior parte dos participantes, cerca de 17,5
mil, já havia transposto a linha final da corrida, mas uns 5 mil ainda estavam
na altura em que as bombas explodiram; três mortos e maior número de mutilados,
foi o saldo dessa insânia. Estes dados são bastantes para dar ideia da catástrofe.
Enfim,
a violência arrasadora e o horror subsequente levaram a segurança a converter-se
em hipótese distante e duvidosa e era inevitável que o fato lembrasse outro,
ocorrido quase 12 anos antes, do World Trade Center, cujos danos imateriais e
materiais foram assustadores. Não se conhecia precedente semelhante.
Dois
aviões, pilotados não sei por quantos, tomando o endereço da morte sem apelo se
haviam jogado contra as imensas e modernas construções que seriam símbolo da
maior cidade americana; levados pelo paroxismo da paixão ou o fanatismo das
crenças tomaram o caminho da morte para destruir também o que de imaterial elas
pudessem simbolizar; naquele momento uma onda de estupor fez o mundo parar por
um instante.
Mas à
perplexidade seguiu-se a consciência de que a face do universo havia sido
lanhada. A tranquilidade da segurança do país mais desenvolvido e poderoso sob
muitos aspectos, inclusive o da segurança interna e externa, restara estilhaçada
num abrir e fechar de olhos. Os Estados Unidos sofreram na carne e na alma a
lesão inimaginada. Mas o resto do mundo, querendo ou não, também foi alvejado,
uma vez que, com os novos procedimentos, ninguém poderá dizer-se seguro.
Pois
bem, foi junto a Boston, capital de Massachusetts, onde se ergue a mais que
tricentenária Universidade de Harvard, uma das mais antigas e afamadas instituições
universitárias da América do Norte, fosse a escolhida para testemunhar que o
terror não estava extinto.
O
flagelo de agora pode parecer modesto se comparado aos danos causados na
investida contra as Torres Gêmeas de Nova York, mas serviria, quando menos,
para certificar a permanência do foco selvagem. Em termos quantitativos foi uma
operação menor, mas sua materialidade foi suficiente para demonstrar que a
chaga permanece viva, à semelhança de um vulcão que, quando menos se espera,
entra a desfazer-se de suas lavas mortais.
Até o
momento em que escrevo, não tenho elementos suficientes para avaliar a origem e
finalidade dessa insânia. Será de denominada organização terrorista, será dela
um braço ou um grupo escoteiro a promovê-la por conta própria? De qualquer
forma, pode ser novo ou não, e seus efeitos diferentes e até mais perigosos dos
antes conhecidos. Num mundo de conflitos imensos e de soluções complexas
irrompe um fato que não é bom e pode ser ainda pior.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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