15
de abril de 2013 | N° 17403
L.
F. VERISSIMO
Estrategistas
Uma
improvável guerra entre Coreia do Norte e Estados Unidos não será a primeira.
Em 1950, a Coreia do Norte cruzou o paralelo 38 que separava as duas Coreias
desde o fim da II Guerra Mundial e invadiu o Sul.
As
Nações Unidas autorizaram uma intervenção de forças aliadas para conter a
invasão. As “forças” eram quase 100% americanas, comandadas pelo folclórico
general Douglas MacArthur, que tinha se destacado, no Pacífico, como um dos
generais-celebridades da Segunda Guerra, junto com Patton na Europa e
Montgomery e Rommel no norte da África.
No
fim da guerra, MacArthur fora instalado pelo presidente americano Truman como
vice-rei do Japão, onde, entre outras coisas, instituiu uma reforma agrária de
fazer o Stedile salivar, e comandou suas tropas na Coreia sem sair de Tóquio.
A
Guerra da Coreia também revelou um estrategista militar de primeira ordem: eu.
As coisas não iam bem para os coreanos do Sul e os americanos, encurralados na
ponta extrema da península.
Apesar
da pouca idade, eu me interessava pela guerra. Estudei meus mapas e concluí que
uma maneira de romper o sítio seria fazer um desembarque anfíbio como os que os
americanos tinham feito em ilhas japonesas e, com tropas aliadas, nas praias da
Normandia durante a Segundona, atrás das linhas inimigas.
Cheguei
a escolher o lugar do desembarque: Inchon, na costa leste. E foi exatamente
onde ocorreu o ataque, dias depois. Não concluí que meu plano havia sido
recebido telepaticamente pelo MacArthur, que não tinha pensado nisso. Minha
megalomania não chegava a tanto. Mas coincidência ou não, a estratégia deu
certo. O Sul rompeu o cerco e perseguiu o Norte para além do paralelo 38, até a
fronteira com a China.
Douglas
MacArthur (por falar em megalomania) foi o mais perto que um moderno general
americano chegou de ser golpista. Com a aproximação dos americanos da sua fronteira,
os chineses tinham entrado na guerra, e a grande questão do momento era se os
americanos deveriam ou não atacar o outro lado do Rio Yalu, que marcava a
fronteira entre Coreia e China.
MacArthur
queria não apenas levar a guerra para o território chinês, como também usar
armas nucleares. Sua insubordinação – negou-se a ir a Washington falar com o
presidente sobre o que fazer com os chineses, tiveram que marcar a reunião num
local escolhido por ele – levou Truman a destituí-lo do comando.
MacArthur
voltou para casa como ídolo da direita dura americana. É difícil imaginar que
liderasse um movimento anticomunista sedicioso, mas, se havia alguém com perfil
e disposição para isto, era ele. Preferiu despedir-se com um famoso discurso
que terminava dizendo que os velhos soldados nunca morrem, apenas desaparecem
lentamente. E começou a desaparecer.
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