segunda-feira, 22 de abril de 2013



22 de abril de 2013 | N° 17410
PAULO SANT’ANA

O atentado de Boston

Agora mesmo, o FBI e a polícia americana têm em seu poder um jovem de origem chechena que é acusado de ser um dos dois autores do atentado de Boston. Nos crimes comuns nos EUA, os acusados têm todas as garantias legais, entre elas calar-se e contratar advogado.

Mas, para os crimes que envolvem terrorismo, há uma lei especial, pela qual são suspensas todas as garantias constitucionais dos acusados. Eles não podem calar-se e o noticiário até agora não se referiu a qualquer advogado para esse rapaz que se encontra ferido gravemente no hospital.

Em suma, essa lei especial para terroristas foi prestigiada na presidência Bush e visa a um fim específico: os investigadores podem torturar os presos. Enfim, como aconteceu com os presos de Guantánamo, essa lei especial tem a finalidade de permitir que as autoridades arranquem tudo dos interrogados, desde a confissão até os testículos.

Nem sei como o presidente Obama, do Partido Democrata, vai concordar com esse monumental absurdo. Se esse rapaz que está no hospital foi mesmo culpado do atentado, entendo, antes que me compreendam mal, que ele deve ser punido rigorosamente.

Mas entendo também que ele deveria ter o direito de calar-se e de ser assistido por um advogado. E que toda a técnica tão elogiada do FBI provasse a culpabilidade dele sem a necessidade de torturá-lo. Mas a lei especial para terrorismo não vai permitir isso.

Por sinal, no Estado de Massachusetts, onde ocorreu o atentado, não vigora a pena de morte. Mas a imprensa anuncia que o rapaz acusado pode ser executado em face da lei especial.

Eu quero dizer com toda a sinceridade que, em face de que está sendo noticiado que a polícia americana está torcendo para que o rapaz acusado sobreviva ao internamento hospitalar para que ele esclareça a motivação do atentado, que eu estou torcendo para que ele morra no hospital. Para que não seja torturado.

Escrevo o que já escrevi aqui há anos: é profundamente deprimente que os EUA, que se gabam de ser a maior e melhor democracia no planeta, escreva em lei que presos podem ser torturados, sob máscara eufêmica de “interrogado com métodos especiais”.

Torturar, todas as polícias do mundo acabam torturando ilegalmente. Mas escrever na lei que a polícia pode torturar, nunca vi isso em nenhum outro lugar. Nem nas ditaduras. E só por isso eu classifico os EUA como a pior democracia do mundo.

Agora um detalhe sobre as investigações do atentado: noticia-se que os dois irmãos acusados pela autoria, o que foi morto pela polícia e o sobrevivente, que por sinal foram responsáveis pela morte de um policial na caçada, já eram observados pelo FBI antes do atentado, o irmão morto pela polícia até interrogado sobre terrorismo já tinha sido, antes do atentado, pelo próprio FBI.

Se é assim, deixa de haver curiosidade sobre a motivação que os levou a cometer o atentado. Foi por terrorismo mesmo. E terrorismo é mais ainda revoltante porque tamanha desumanidade não se explica nem jamais se justifica.

À luz dos melhores ensinamentos sobre direitos humanos.

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